01 outubro 2006

Eleições - A democracia brasileira é uma criança raquítica

Não acredito que muitos brasileiros enxerguem a importância de um dia de eleições. Nessas manhãs, acordo com um enorme sentimento de grandeza. Nasci numa época em que não se escolhia o presidente da República. Ele era posto e imposto à nação, assim como muitos governadores e até prefeitos que eram nomeados por chefetes em Brasília que se julgavam no direito de escolher pelo povo.

Essa ilustre menina, a Democracia, demorou tanto a chegar por estas bandas que eu e meus pais quase votamos juntos pela primeira vez para presidente. Isso só não aconteceu por detalhes da legislação eleitoral que me excluiu daquele momento histórico apesar de eu ter 16 anos completos no dia do pleito. Mesmo assim, senti muito orgulho ao ver o Brasil saindo do rol de países ditatoriais nos quais povo é apenas gado em pasto de déspotas comunistas ou capitalistas.

Por ter vivido tanto tempo como rebanho, os brasileiros ainda se comportam como tal. Não há nada mais estranho ao Brasil do que o Congresso brasileiro. Um estrangeiro que quiser conhecer o país através de seus representantes no legislativo enxergará um país de doutores, latifundiários, empresários, banqueiros, grandes administradores de planos de saúde e representantes mistos destes e de outros lobbies menores. Onde estão os que representam as donas-de-casa, os caminhoneiros, as prostitutas, os estivadores, os desempregados, os camelôs, os operários, os estudantes, os favelados, os sem-teto e os sem-terra?

Por mais absurdo que pareça, a maioria de nós votará contra si mesmo no domingo. Cidadãos que darão seu apoio a congressistas que já legislaram e agiram contra os interesses de quem neles votou. Isso não é percebido porque a vida democrática para o brasileiro acontece somente a cada quatro anos. Portanto é natural e lamentável que quase ninguém se lembre em quem votou na última eleição.

Felizmente, a Democracia é uma criança paciente. Aos poucos, o acompanhamento da vida política do país vai aumentando. Depois de começar a guardar o nome de quem elegemos, vamos ver o que ele fez nas questões que mais nos interessam. Chegará o dia em que a Maria da Silva verá que aquele lugar em Brasília é dela e não do seu chefe, do coronel da fazenda, do dono da empresa, do dono do banco. Deixará o auto-menosprezo de lado e sairá da senzala para finalmente ocupar a casa grande.

Ao votar neste domingo, tenha em mente duas coisas. Primeiro, o que o seu candidato tem a ver com você? E depois, pense nos brasileiros que morreram lutando pela democracia para que você tivesse esse momento de escolha. Só isso, já nos faz ter uma alma do tamanho do nosso território.

Bons votos, Brasil. Você vai precisar.

Um comentário:

Marco Aurélio disse...

Fábio

Eleição no Brasil é sempre assim: um festival de baixarias. Muitos pensam assim: Mudam os candidatos e os partidos, mas a história é sempre a mesma.É justamente a descrença em mudanças que faz com que o eleitor se sinta, cada vez mais, acuado e desencantado com a política. O pessimismo prevalece. É difícil enxergar uma luz no final do túnel, MAS NEM TODO MUNDO É ASSIM! Ainda como alguns, acredito que a educação pode ajudar a salvar esse país!

Um abraço

Marco Aurélio