27 fevereiro 2009

A arte imita a vida

Novo filme da Pixar, baseado na história de um padre real:

26 fevereiro 2009

Elucubrações anhaianas

Elucubrações anhaianas
Fábio Reynol

Caro leitor, cada um elucubra onde mais lhe apetece. Uns preferem refletir sob o chuveiro morno para que os miolos se amaciem, outros gostam de fazer suas viagens intelectuais em carrinhos de supermercado donde tiram verdadeiros compêndios sobre o comportamento humanoconsumista, José Anhaia elegeu o áurico e sagrado espaço de seu vaso sanitário para deitar fora as mais preciosas reflexões sobre o universo que aí está. Ironia pura o fato de na mesma hora e local serem deitadas fora outras criações de suas entranhas bem menos preciosas, para não dizer o contrário, bem abjetas. Bom, detenhamo-nos às primeiras e deixemos as segundas para um ensaio de outro cronista descompromissado com os pudores de uma crônica familiar como esta.


A escolha do privilegiado ambiente sanitário para os exercícios do intelecto já lhe trouxe consequências das mais curiosas. A mais interessante é que quanto mais tempo ele passa no trono, mais profundas são suas conclusões e mais sofisticada se torna a sua linha de raciocínio. Uma diarréia, por exemplo, pode ser a catalizadora de um ensaio sobre a taciturnidade inerente às aves de rapina comedoras de matéria putrefata ou sobre a etmologia do vocábulo “estrovenga”, ou ainda sobre a incompreensibilidade do termo “graças a Deus” aplicado às situações favoráveis, mas jamais empregado aos reveses da vida.

Outra curiosidade é notá-lo aquietado, sem perguntas a colocar, nem ensaios a apresentar. Nesses momentos, raros é verdade, o diagnótico é certo: “o senhor está com o intestino preso, não é, seo José?” O fato é que a sua atividade intestinal está intimamente ligada de alguma forma à sua atividade mental. O que me faz acreditar que um purgante ou uma infecção intestinal o faria rescrever a teoria da relatividade, e lhe renderia com certeza um Nobel.

Só não se atreva a interrompê-lo durante seu processo criativo, o último que fez isso teve um fim trágico. Conta o próprio sábio que um dia estava ele a soltar pensamentos a esmo pelo vaso sanitário quando uma criatura resolveu atrapalhá-lo: “Era um mosquito da dengue", lembra o sapiente. "O safado deu um voo rasante no meu nariz. Quando retornou da volta de reconhecimento, dei-lhe um safanão na orelha direita que ela deve ter ficado zunindo. Atordoado, ele entrou em meidei e já foi procurando um rio Hudson para fazer um pouso de emergência. Desceu de barriga sobre uma poça no chão e começou a taxiar. Antes que ele pudesse iniciar os reparos, esmaguei sua fuselagem com um pisão”, conta orgulhoso J. Anhaia o seu grande feito de guerra.

Descartes dizia que pensava e por isso existia, Anhaia o reescreve com o seu “cago, logo penso”! É o fundador do racionalismo diarréico ou anhaiano.

20 fevereiro 2009

Fechado para o Carnaval

O estrangeiro que aqui bater durante os quatro dias mais sagrados do
ano encontrará um aviso afixado na porta:

País fechado para o Carnaval

Saímos para o Carnaval. Nos próximos quatro dias não haverá expediente e o governo será provisoriamente substituído. Seremos uma monarquia chefiada por Momo, o Pançudo. A crise está suspensa por ordem do soberano e todas as reclamações devem ser encaminhadas em papel de serpentina em duas vias. A primeira deve ser arremessada sobre a cabeça do rei, a segunda deve ser enrolada, bem enroladinha e enfiada na cesta de intenções de quarta-feira de cinzas, quando retornaremos às nossas funções normais.

Se quiser entrar, fique à vontade. Ou melhor, só entre se for ficar à vontade. O traje obrigatório para a ocasião é o tapa-sexo, cujo tamanho varia – logicamente – conforme as dimensões do sexo a ser tapado. O(a) estrangeiro(a) deve estar atento para não usar pano demais e acabar por esconder partes anatômicas que não estejam explicitamente catalogadas como “sexo”. Tampouco poderá usar pano de menos a ponto de expor saliências, reentrâncias, rebarbas, cavacos ou cantos vivos próprios da tropicália desnuda. No mais, cole purpurina, lantejoulas ou mini-adesivos nos mamilos e despenque-se na folia.

Na hora de destapar o sexo, use-o com moderação, depois lave-o com um sabão neutro e deixe-o secar à sombra (se ele for do tipo em que bate o sol).

Importante: O monarca em exercício não se responsabiliza por objetos deixados dentro dos foliões nem pelas reentrâncias de bêbados.

Certo da animação e da malemolência de vossa senhoria.

Brasil

17 fevereiro 2009

Gastronomia em tempos de crise

Gastronomia em tempos de crise
Fábio Reynol

Não é porque o bolso apertou que devemos nos privar dos bons prazeres da mesa. Gastronômicos, fique bem claro! Não me refiro às taras de quem gosta de saborear o kamasutra em vez do kanikama sobre a mesa de jantar. Este artigo é para quem aprecia a culinária requintada, mas foi apanhado de jeito pelo estouro da bolha-hipotecária-financeira-imobiliária-interbancária mundial dos EUA-Europa e periferia limitada.

Meus caros, há mais prazeres ocultos nas prateleiras populares dos supermercados do que sonha a vossa vã gastronomia. Quem está com a corda no pescoço há de descobri-las com uma ajudinha deste gourmet pós-graduado em paçoca em Piranguinho (MG).

Primeira lição da crise: esqueça o caviar, o escargot, as geléias de pimenta e as demais melecas dos empórios de Higienópolis. A culinária pop pode ser muito mais gosmenta e saborosa do que suas similares da high society.

Um excelente substituto para o caviar é o chamado ovo de galinha, que tem esse nome devido à ave da qual se oriunda. Alimento finíssimo, o ovo galináceo deve ser manipulado com delicadeza e quebrado sobre uma frigideira pré-aquecida com óleo requentado de, no máximo, três semanas de uso. Ao abri-lo, deve-se ter o cuidado de não perfurar a gema a qual terá um papel importante mais adiante.

Ao esbranquiçar a clara, o ovo deve ser cuidadosamente retirado e o excesso de óleo, absorvido por um jornal velho. O acompanhamento ideal é arroz bege-quase-marrom ajeitado no prato sobre uma generosa quantidade de feijão. Não se preocupe se o arroz empapar, com a crise, o arroz empapado está voltando à moda. Por isso, não compre arroz de primeira ou não sobrará para o feijão.

Uma vez escorrido, destaque o ovo do jornal. Algumas notícias poderão ter grudado no verso da iguaria, por isso escolha bem a seção do jornal onde o ovo escorrerá. Prefira os cadernos de cultura e lazer, as páginas de política e de polícia costumam causar indigestão e até perda de apetite.

Coloque o ovo sobre o bolote de arroz, centralizando a gema. Com uma faca pontuda perfure a gema até a ponta encostar no fundo do prato. Com a faca e um colherão, faça movimentos circulares, ondulatórios e misturatórios de forma que ovo, arroz e feijão forme uma só massa compacta e indestrutível. Sirva em um prato fundo ou coma direto da panela.

Esse acepipe deve ser acompanhado por uma garrafa (pet) de Tubaína Tutti-frutti (acidulante BTX-zileno e corante CDIII-tuleno) safra 2009. Não aceite safras anteriores, ou a fermentação poderá ser brutal. Sirva em copos de requeijão Nadir Figueiredo previamente limpos. Se lhe restou alguma influência internacional, mande importar do Maranhão o refinado guaraná Jesus encontrado na cor rosa e no inconfundível sabor indecifrável. A requintada bebida maranhense deixa no palato um gosto nada suave de chicletes trufados.

Bem-vindo ao andar de baixo! Bon appétit!

IMPORTANTE: O Diário da Tribo não se responsabiliza por reações adversas que a perda de capital possa trazer à alimentação. Se persistirem os sintomas, um agente funerário deverá ser consultado.

12 fevereiro 2009

O Castelo Encantado de Sua Deputância

Era uma vez um deputado que mandou construir um lindo castelo. Haveria de ser um palácio enorme para guardar muito ouro, jóias, carrões importados, telões de plasma e tudo o mais o que a sua rica propina podia comprar. Ele morava no reino de Tão Tão Corrupto, uma terra maravilhosa irrigada com verbas federais sempre fresquinhas, legislada por piratas inescrupulosos e habitada por um belo povo adormecido.

Durante a construção da estrutura nababesca, um dos súditos do deputado comentou com o soberano:

- O sinhô vai me adescurpá, mas esse castelo não vai dar muito na cara, não? Sua Deputeza Federal não prefere fazê uma mansãozinha cheia de jaccuzzi e jetisqui na garagi como todo deputado faz depois do primeiro mandato?

Mas o senhor deputado queria mesmo era mostrar toda a sua deputância, que não era pouca:

- Pois se não fosse pra mostrar na cara, eu contruía era metrô que é escondido na terra e muito mais barato que castelo, uai!

- Ara que o sinhô tá brincano com fogo! Um dia o povo descobre esse castelo e o sinhô vai se queimar!

- Pare de dizer bobagens, homem! Esse castelo se erguerá sobre Tão Tão Corrupto, uma terra de cegos! Até a nossa capital, Corruptília tem castelos bem mais escandalosos do que este.

E assim, pedra desviada por pedra desviada, o castelo foi sendo levantado. Cada superfaturamentozinho, cada propininha e cada negociata, por menor que fosse, viraria uma parte da suntuosa construção. Os alicerces vieram do que seria o tratamento de esgoto de 13 cidades, as pedras saíram do desvio de mais de 50 escolas e, graças aos hospitais que nunca saíram do papel, o palacete foi forrado com madeira de lei, pisos de mármore e tapetes persas. O cimento sequer precisou ser comprado, foi “sobra” de uma ponte que nem foi concluída.
Tanto carinho e dedicação do deputado não foram em vão. Ao contrário das obras públicas, o castelo deputal foi terminado. Foi quando o súdito voltou:

- Sua Deputeza Federal! Mas tá bonito demais, sô! Dá até medo!!

- Ara, larga a mão desse medo, sô!

E tudo ia bem em seu lindo palacete, até que um belo dia (para o reino, não para o deputado, que fique claro) Sua Deputeza resolveu deputar onde não devia.

Achou-se de querer o cargo de xerife deputal, o homem que era a lei para os homens que faziam as leis e que não cumpriam lei alguma. Foi aí que a coisa toda se lascou e a profecia do capiau se realizou.

Alguém acabou olhando para o castelo, como havia previsto o súdito, e percebeu que Sua Deputeza não o havia declarado em sua lista de bens. Algo compreensível, uma vez que alguém com tantos imóveis pode se esquecer dos menores de vez em quando. Mas não teve jeito, as fezes já estavam sendo conduzidas ao ventilador e a vaca já tomava o seu caminho rumo ao brejo.

Tal qual o encanto que construiu o castelo, a maldição caiu rápida e o fez perder a estrela do peito antes mesmo de colocá-la. O deputado ficou deputíssimo da vida e colocou a culpa nas bruxas malvadas perseguidoras de proprietários de lindos castelos. Porém, mesmo sem o cargo que tanto queria, abençoou as fadas que o fizeram morar em Tão Tão Corrupto, pois ouvira dizer que na França decapitavam-se os monarcas encastelados.

Com a cabeça entre as orelhas e bem grudada ao pescoço, Sua Deputeza seguiu a vida tranquila em seu castelo e ainda recebia votos dos ogros adormecidos lá do pântano que assim viveram roubados para sempre.

05 fevereiro 2009

Agora sou um espetáculo!!! E de rua!!!!

Queridos leitores do Diário da Tribo,

É com a alma bisurada nos editais licitatórios e patrocinatórios da dramaturgia pós-contemporânea que vos comunico que a crônica “O Vendedor de Palavras”, de autoria deste que vos atormenta, se transformou num belíssimo espetáculo teatral.

O grupo gaúcho Mototóti adaptou a história do camelô que vende palavras adicionando uma história de amor, personagens envolventes, figurinos de época, cenários hollywoodianos e até uma trilha sonora especialmente produzida. A minha única exigência foi não permitir que o Pierce Brosnan ficasse com um papel que exigisse cantar (vide o filme Mamma Mia!).

A estreia será no dia 22 de março ao meio-dia, no Brique da Redenção, em frente à igreja Santa Terezinha, em Porto Alegre (RS). E o melhor: é um espetáculo de rua com acesso liberado a todos que quiserem assistir.

Estão todos convidados para esse evento que marcará para sempre a arte dramática mundial. Comecem a montar suas caravanas de Macapá, Belém, Ananindeua, Santarém, Marabá, Fortaleza, Juazeiro, Recife, Salvador, Vitória, Goiânia, Brasília, Cuiabá, Campos dos Goytacazes, Macaé, Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo capital e interior, Curitiba, Genebra-Suíça (Viu, PessoAna?), Philadelphia, Floripa e pessoal do interior do Rio Grande do Sul.
Juntem a farofa, coloquem a canja na garrafa térmica e corram para onde o Kleiton ia quando o Kledir lhe dava baixo astral.

Conto com a presença de todos! (vou fazer a chamada!!!)
Amplexos dramatúrgicos,

Fabio Reynol

O Vendedor de Palavras
Baseado na crônica homônima de Fábio Reynol

Concepção e Atuação: Carlos Alexandre e Fernanda Beppler
Direção: Arlete Cunha
Dramaturgia: Rodrigo Monteiro
Trilha Sonora Original: Fernanda Beppler
Cenografia: Zoé Degani
Máscaras - Criação e confecção: Cia Gente Falante Teatro de Bonecos
Figurinos: Coca SerpaDesing
Gráfico: Carlos AlexandreProdução
e Realização: Grupo Mototóti

Estreia 22 de Março

Em frente a Igreja Santa Terezinha no Brique da Redenção às 12h
Grupo Mototóti