04 agosto 2009

Os Cadernos da Contrabdução 2

Os Cadernos da Contrabdução
Relatos de ETs vítimas de terráqueos


Depoimento 2 - Zigurion Nagakzis habitante do sextante terceiro da galáxia Takmuria.

“O tempo estava péssimo. Peguei uma chuva de asteróides que me deixou navegando às cegas, com visibilidade de apenas quatro anos luz à frente do párabrisa. Um asteróide em alta velocidade passou de cima para baixo à minha esquerda, joguei o manche para o lado oposto e acelerei. Foi quando aquele planetinha azulado entrou na minha frente.

O choque não foi tão ruim quanto o que viria depois. Bati contra uma massa líquida, afundei e voltei à tona. Os sistemas não pararam de funcionar, então procurei uma superfície sólida para aplanetar e verificar sinais de avaria. Antes tivesse ido embora. Estacionei ao lado de numa espécie de via para veículos terrestres, saí da nave para analisar a fuselagem. Foi quando uma espécie de autoridade planetária se aproximou em um veículo de duas rodas que não levantava do chão. O sujeito saltou do brinquedo e veio até mim.

- O senhor poderia apresentar a sua habilitação? – perguntou para mim, segundo meu tradutor pirântico.

Abri a mão para que ele passasse um scanner ksaihaus. Já imaginava que aquele povo primitivo não tinha tal equipamento, mas ele não comentou nada. Apenas fez outra pergunta:

- O senhor pode me apresentar a documentação do veículo?

Estendi a mão mais perto para que ele pudesse fazer a leitura. Do mesmo modo como fazemos com os policiais de Tianali, aqueles ceguetas! Mas não adiantou, então insisti:

- O senhor pode ler – respondi. E ele pareceu ter se assustado com o timbre do meu tradutor pirântico. E começou o diálogo:

- É o seguinte, cara. Se você não tem a documentação do veículo eu vou ter que apreender a máquina e se não tem habilitação para guiá-la vou prender o senhor também.

Percebi que ele estava falando sério, tentei explicar:

- Autoridade, acabei de sofrer um acidente. Minha nave acabou de bater em seu planeta e eu estou verificando avarias.

- O senhor não pode ir entrando num planeta assim, sem passaporte nem documentação... O senhor passou pela alfândega?

- Não... eu caí por acidente...

- Então eu vou ter que verificar o porta-malas. Abra o veículo – ele disse.

Abri a lateral e ele nem olhou para a bagagem. Ficou fascinado pelas espécimes dormelóides que eu capturei para o meu cunhado. Creio que ele confundiu com fêmeas humanas. De boca aberta, ele perguntou:

- O que essa mulherada pelada está fazendo aí atrás?

- O senhor está enganado - respondi – não são fêmeas da sua espécie. São dormelóides do cinturão de Gorite.

- Você é traficante de mulheres!

- Não são mulheres! São animais perigosos e...

- Vamos fazer o seguinte – disse o terráqueo colocando a mão sobre o meu ombro - você solta essas meninas e a gente dá um jeito de o senhor ir embora como se nada tivesse acontecido... – disse dando uma piscadela.

- O senhor não está entendendo, são bichos realmente perigosos!

- Ah, eu sei bem o quanto esse bicho é perigoso! Respondeu a autoridade nativa num tom de chacota. – Ou deixa a mulherada comigo ou vai para a cadeia.

Não tive escolha. Soltei os dormelóides e entrei correndo na nave. Liguei os motores e zarpei sem olhar para trás. Nunca mais tive coragem de voltar àquele lugar. Muito tempo depois, ouvi dizer que os dormelóides tinham eliminado todas as fêmeas do planetóide e estavam se acasalando com o machos. Até hoje a maioria daqueles machos acha que se acasala com seres da sua espécie. Idiotas!”

Fim da transmissão.