26 abril 2007

Adeus limbo!


Sua Santidade e CEO da Igreja Católica Germânico-romana, Bento 16, acaba de desativar o Limbo, a enorme ante-sala do céu para onde eram destinadas todas as crianças que batiam as botinhas antes de ser batizadas. A repartição havia sido criada no século V, pelo bispo de Hipona, Agostinho, quando a Igreja estava sob a administração de Celestino I. O objetivo era servir de abrigo para as pessoas que não eram mazinhas o bastante para ir para o Inferno ou para o Purgatório nem limpinhas o suficiente para entrar no Céu, já que não haviam sido lavadas nas águas batismais.

A maioria dos inquilinos do Limbo acabou sendo crianças não batizadas, pois que, uma vez adulto, era difícil não dar uma pecadinha que valesse uma estadia com o Coisa Ruim. A preocupação de Agostinho tinha sentido, essa criançada iria emporcalhar as nuvens branquinhas do Paraíso com os seus Pecadinhos Originais. Portanto era melhor que ficassem em uma creche separada e assim evitar a ira de Deus e o conseqüente aumento de suas madeixas brancas.

Com a globalização, porém, ficou difícil diferenciar o Pecado Original de Fábrica de seus congêneres pirateados. Atualmente, cerca de um quinto do pecado dito original do mundo nasce na China, é contrabandeado em navios para os Estados Unidos, confessado no Brasil e perdoado na Itália. A salada mundial confundiu o setor de triagem do Paraíso e foram encontradas no Limbo muitas almas que não tinham o Pecado Original, mas uma imitação paraguaia barata do deslize de Adão e Eva.

Ao alvorecer do Século XXI, o Vaticano logo viu que não valeria a pena exigir batistério (certificado que o cristão foi batizado) para conceder a cidadania celestial e autorizou o Departamento de Migração a carimbar os passaportes dos moradores do gueto do Limbo. A decisão veio após meses de discussão da alta diretoria do Vaticano e acabou sendo protocolada pelo CEO, Bento XVI.

Para evitar desemprego no andar de cima, os anjos lotados na unidade deverão ser remanejados para o Céu ou enviados para o Rio de Janeiro, a pedido do governador Sérgio Cabral. O ato eclesiástico animou a comunidade excluída internacional - em especial os gays, descasados e simpatizantes – que agora pressiona a Santa Sé para extinguir também o Inferno. Eles querem passar a eternidade do mesmo modo como vivem aqui: ao lado de Deus.

20 abril 2007

Vâmo pulá! Acaba o casamento de Sandy e Júnior

Gostaria de deixar claro que não é objetivo deste blog ser fórum de fofocas televisivas nem de mexericos globais. Este assunto só encontrou lugar aqui por causa da gigantesca comoção mundial que ele provocou esta semana.

Terminou uma das mais longas uniões da história do show business brasileiro. Após 17 anos de relacionamento sólido, a dupla Sandy e Júnior, filhos de Chitãozinho e Chororó, vai se separar. Eles começaram a carreira perguntando a Maria Chiquinha o que ela tinha ido fazer no mato. O conteúdo subliminar porno-erótico da canção deu lugar a baladinhas sensuais na década de 1990, como a “ah, ah, vai ter que rebolar...”

Curiosidade: trata-se de uma das raras separações de famosos que não começou com uma “bênção” do padre Antônio Maria. O sacerdote está envolvido em oito de cada dez casamentos retratados pelas capas de Contigo e de Caras e que acabaram em água (nada benta). Suspeita-se que Antônio Maria deva estar por trás de boa parte dos seis enlaces mal sucedidos de Gretchen e dos 18 do humorista Chico Anysio.

Recall eclesial
A “cola” matrimonial empregada pelo padre está mais para “goma arábica” o que deveria obrigar o Vaticano a fazer um recall dos casados por ele para que recebam uma bênção mais encorpada. Aqui vai a minha sugestão para o texto da campanha: “A Igreja Católica Apóstólica Romana convoca todos os casados com certidão de final 0497 a 0876, enlaçados pelo sacerdote Antônio Maria e que ainda assim permanecem, a comparecer o quanto antes à igreja autorizada mais próxima para a realização do serviço de reforço de solda benta nupcial. A liga utilizada originalmente foi considerada fraca e pode provocar rompimentos repentinos ao ultrapassar obstáculos. A igreja não se responsabiliza pelos enlaces já rompidos. Em caso de indignação: vá reclamar ao bispo.”

Para o caso de Sandy e Junior, porém, não há salvação eclesial, uma vez que o padre tirou o corpo dessa história. Antônio Maria já provou que o único ponto em comum que mantém com a dupla é o fato de não saber cantar. O casal não deixa filhos e a separação de bens deverá se dar de maneira amigável com cada parte ficando com apenas R$ 619 milhões livre de impostos. O talento deverá continuar no cofre da família de onde ninguém até hoje teve coragem de tirar para mostrar ao público.

12 abril 2007

Um congresso de tirar o chapéu

O grau de desenvolvimento de um país pode ser medido pelos mais estapafúrdios indicadores como o tipo de vaso sanitário em que seu povo se senta ou os projetos de lei votados em suas casas legislativas. No Brasil, projetos de lei e vasos sanitários são bem diferentes quanto à forma, mas guardam impressionantes semelhanças de conteúdo. Deixarei as latrinas para uma análise posterior em um próximo ensaio econômico-político-escatológico que colocará O Capital de Marx no bolso. Trato aqui, pois, de como as pautas das assembléias de representantes eleitos indicam se uma nação atingiu ou não o pleno desenvolvimento.

Supõe-se que quando um povo elimina seus problemas mais elementares de saúde, educação, segurança, etc., seus deputados e senadores, a fim de justificar seus salários, comecem a se aventurar em novas searas legislativas como a criação de normas que regulamentem o penteado dos membros do senado, a tonalidade de batom das juízas federais em comparação às colegas estaduais e os perfumes sancionados para uso em repartições públicas.

E foi justamente neste indicador denominado “Ausência Laboral Parlamentar” (também conhecido como Falta de Serviço) que o Brasil acaba de alcançar o grau máximo de desenvolvimento. Nesta semana, passou na frente das demais pautas a serem votadas a lei que regulamenta os trajes parlamentares, o que demonstra o elevado nível de futilidade atingido pelo Congresso Nacional brasileiro.

O motivo da urgência da votação foi conter a ameaça representada pelo deputado baiano Edgar Mão Branca (PV). O cabra só aparece na assembléia com seu inseparável chapéu de couro no melhor estilo "rei do cangaço". Receosos de que o colega recebesse mais holofotes do que eles próprios, os demais membros da casa decidiram votar em regime de urgência a lei que restringe o traje parlamentar a terno, gravata, uma camisa por baixo desta, sapato e um relógio suíço. Roupas íntimas e meias ainda hão de ser regulamentadas a fim de que estas combinem com aquelas e ambas ornem com a tonalidade das calças.

O descumprimento dessa lei levará o parlamentar a enfrentar uma Comissão de Ética por quebra de decoro o que é, no mínimo, inadequado. O correto seria a criação de uma Comissão de Estilo e Etiqueta cuja presidência teria o nome do deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP) como candidato mais indicado. Estilista de renome, Hernandes botaria a tão sonhada ordem na casa ao impor as combinações apropriadas traje-ambiente e promover a renovação dos tecidos que saírem de moda.

Fosse criada há mais tempo, a Comissão de Estilo e Etiqueta teria evitado aberrações como a Dança do Mensalão coreografada e interpretada pela ex-deputada Ângela Guadagnin (PT-SP). “Vossa Excelência desonrou esta Casa ao dançar sem ritmo e não sincronizar vosso traseiro parlamentar ao movimento das mãos”, diria o relatório da comissão, “dados os fatos supra-narrados não resta a este relator senão sugerir como punição o encaminhamento de Vossa Excelência a uma academia de dança onde debutará ao som da canção 'Tô ficando atoladinha'”.

A mesma comissão teria defendido os olhos da nação das tinturas capilares berrantes da ex-deputada Esther Grossi (PT-RS). “Vossa Excelência quebrou o decoro capilar desta casa ao tingir os cabelos em tom rosa-fúcsia em clara dissonância com as unhas purple-baby. Acrescente-se o agravante que a coloração capilar do momento é azul-bolor-metálico, tom que Vossa Excelência deixou de usar há três dias,” sentenciaria o presidente da comissão.

Enquanto essa importantérrima Comissão específica não nasce, nós, brasileiros, podemos nos sentir orgulhosos por termos um Congresso muito mais desenvolvido que a nação que o mantém. Enquanto as decisões cruciais tomam a pauta dos legisladores, o povo se atém a banalidades como o que comer, onde estudar e para onde correr em casos de balas perdidas. Somos um povo que perde o voto para não perder a piada. Agora, nossos eleitos vão nos matar de rir.

Guenta mais essa, Brasil!

03 abril 2007

Aqui ninguém é santo


Querida Santidade o Papa,

Quem vos escreve é uma alma brasileira, 100% verde amarela, pertencente ao vosso rebanho do sul do Equador, terceiro quadrante, diocese de Aparecidinha. Entro em contato com a ousada tentativa de desfazer um mal entendido. Fiquei sabendo que vossa viagem a estas terras incluirá a cerimônia de lançamento do primeiro santo brasileiro. Talvez por vossa origem germano-saxofônica passe-vos despercebido uma verdade muito peculiar à cultura brasileira: a santidade não pega em nós. Pelo visto, vossa assessoria não vos comunicou esse infeliz detalhe.

Trata-se de um fenômeno fisico-bioquímico ainda não elucidado pela ciência e inexplorado pela religião. O fato é que somos completamente imunes às leis, às regras e, por conseguinte, à santidade. Ser santo e brasileiro é uma impossibilidade física, uma contradição natural, duas condições que jamais serão satisfeitas ao mesmo tempo. Por isso, não estranhai as gargalhadas quando falar da santidade nacional. Sua Santidade nunca se perguntou por que o maior país católico do mundo jamais teve um santo registrado em cartório eclesiástico? Nossos santos ou são importados (estamos sempre em déficit em nossa balança espiritual) ou são clandestinos, como a Escrava Anastácia ou o Santo Padim Padi Ciço.

Não somos subdesenvolvidos por acaso. Temos clima, terras e recursos para vivermos todos na opulência, mas temos a consciência de que quando isso acontecer, teremos que trabalhar e cancelar o carnaval, a praia e a cerveja. E é claro que Deus não nos deu uma terra linda dessas para ficarmos trancados dentro de uma fábrica ou de um escritório. Como vedes, nossa inteligência está acima da média mundial, porém ela não atenua a nossa alergia à santidade.

Sua Santidade vai entender a nossa santidade quando perceber que ser santo não tem a ver com fazer milagres. Se assim fosse a nação toda viraria altar, porque todo brasileiro é milagreiro por natureza. Veja o exemplo de dona Raimunda, cria seis filhos esperando o sétimo ainda no bucho. Com trocados que recebe lavando roupa, ela alimenta e cuida de todos tendo o cuidado de manter afastado o ex-marido alcoólatra que aparece de vez em quando para pedir dinheiro. Todos os dias ela pratica a multiplicação dos pães, anda sobre as águas do esgoto da sua rua e cura sem remédios os filhos doentes. Já viu alguém fazer isso? Todavia, a Santa Sé jamais dará sua chancela oficial à Santa Raimunda porque ela mora com o terceiro marido, virou evangélica e agora a convenceram a usar camisinha.

Desculpe, seu papa, mas nós não levamos nada a sério. A esculhambação, não o futebol, é o nosso esporte nacional. Descendentes de Vital Brasil, sabemos que a vacina vem do veneno, por isso a nossa santidade é cheia de pecados. Perdemos a missa, jamais a piada! Não somos sérios, graças a Deus.

Espero que esta mensagem chegue a tempo. Porém, se a canonização for mesmo inevitável (a esta altura do campeonato os pastéis de Santa Clara já devem ter sido encomendados) peço-vos a gentileza de designar o novo santo para apadrinhar nossos apagões. Além de nos ser útil, gera até boa rima: “São Galvão, Padroeiro do Apagão”. Se Sua Santidade chegar em meio ao apagão aéreo, me entenderá com toda certeza. A meu ver, no entanto, o ideal seria mesmo reconsiderar essa equivocada decisão.

Canonizai-nos todos, ou não beatificai ninguém!