21 fevereiro 2008

As sete maravilhas da corrupção moderna

Elas podem não ser nenhuma maravilha, mas são nossas e estão pagas e superfaturadas graças ao suado dinheiro de cada brasileiro (com exceção dos que as construíram).

Brasília
O solo sagrado do planalto central brasileiro foi escolhido para assentar a maior metrópole mundial dedicada à corrupção. Superfaturada desde os seus primórdios sob as ordens do faraó JotaKamón, Brasília foi tão bem arquitetada que até hoje nenhum homem honesto conseguiu governar em seus palácios. Concebida originalmente sem esquinas, Brasília não permite jamais que a falcatrua encontre a punição nem que o povo encontre a justiça. Esse verdadeiro patrimônio da humanidade tombado pela Unesco é mantido pelo patrimônio dos brasileiros que vivem na desumanidade.

Prédio do TRT de São Paulo
Construído pelo imperador Lalau, o Liberto, no fim do século XX, essa magnífica obra custou o equivalente a quatro Dubai Al Arab, o hotel mais luxuoso do mundo. Feito em honra ao deus romano Larapius, utilizou mão-de-obra semi escrava com contratos que davam para pagar 532 PhDs de Harvard como mestres de obra. Lalau foi mandado às masmorras por causa da construção, mas permaneceu lá por pouco tempo. Acabou encarcerado em seu próprio palácio de 20 hectares, onde é torturado 24 horas por dia entre uma partida de tênis e uma duchada na Jacuzzi.

O Propinoduto
Orgulho da engenharia brasileira, esse duto levou toneladas de dinheiro vivo do Rio de Janeiro até à Suíça. Fiscais corruptos o projetaram de maneira que ele pudesse ter uma vazão maior que a Bacia do Amazonas. Ao contrário dos oleodutos da Petrobras, o Propinoduto jamais vazou um centavo de seu conteúdo, mesmo atravessando o Atlântico diagonalmente de ponta à ponta. É ou não é de se tirar o chapéu?

O Valerioduto
Obra do conselheiro Marcus Valerius, o Flagelo dos Justos, esse duto alimentou uma multidão de deputados, senadores, ministros e altos funcionários do império durante mais de uma década. Sua mais admirável característica foi o seu gigantesco alcance. Atingiu políticos de todos os partidos sem fazer distinção de cor, credo ou legenda. A obra alimentou diretamente o maior setor comercial brasileiro, o da compra de deputados e senadores.

O Buraco do Serra
Maior canyon urbano do mundo, o Buraco do Serra tornou-se a grande atração turística da cidade de São Paulo. O mais impressionante é que a cratera de 30 metros de profundidade foi feita sem a ajuda de nenhum grama de dinamite. Com isso, o buraco inaugurou uma nova técnica de demolição que, no lugar de explosivos, utiliza um serviço superfaturado, mal fiscalizado e de quinta categoria. Apesar do nome, emprestado do governador da época, a obra foi iniciada pelo antecessor Geraldus Alckmins um especialista na arte de gerar rombos de grandes diâmetros.

O Túnel do Maluf
Todas as vezes que você passar pelo túnel Ayrton Senna em São Paulo, sinta orgulho de ser brasileiro. O metro construído à sua volta custou 50% a mais que o Eurotúnel que passa sob o Canal da Mancha e liga a Inglaterra à França. Só para se ter uma idéia, com o valor dessa megaconstrução sob o Parque do Ibirapuera daria para transformar o Tietê num rio propriamente dito, formado apenas por água e peixes.

O Palace 2
É a única aberração do mundo que virou pó sem a ajuda de um terremoto. Construído no Rio de Janeiro como castelo de areia, o Palace 2 foi vendido como obra de alvenaria sólida com a finalidade de servir de habitação humana. Seu construtor, o deputo-empreiteiro Sérgio Canaya chegou a receber uma proposta de contrato com a multinacional Al Qaeda interessada na técnica de Canaya que não utiliza aviões na demolição de torres.

15 fevereiro 2008

Salve o planeta: troque oito dimenores por uma criança

Consternado leitor, não sei se o Jornal Nacional já lhe avisou: o mundo está sendo destruído. É isso mesmo. E o culpado disso é o homem (não aquele de barba e turbante), mas esse aí que está sentado no seu sofá, minha senhora, enquanto a senhora navega pela internet para ser informada de que o mundo está acabando. Porém, bem diferente de seu concorrente televisivo, o Diário da Tribo não só informa a tragédia, mas também dá a solução para essas fezes que solaparam e revestiram nosso meigo planeta.

Aos fatos.

As crianças dos países ricos
Equivalem aos chamados “dimenores” dos países pobres, mas devido à região onde nasceram e ao complexo alimentar nutritivo que receberam, elas ganharam o título de “crianças”. De fato, crianças e dimenores são tão diferentes entre si quanto é o Real da Libra Esterlina. Explico: uma criança dos nacos ricos do mundo polui o mesmo montante que oito dimenores terceiromundistas. Elas vão oito vezes mais ao shopping, à escola e ao Mac Donald’s - talvez por causa deste último elas também defequem oito vezes mais, o que explica a montanha de fraldas oito vezes mais alta do hemisfério norte.

A solução:

A venda de Créditos de Criança
Os especialistas do Diário da Tribo propõem que as famílias dos países endinheirados enviem seus rebentos para serem criados nos países periféricos. Em troca, esses casais ricos receberiam oito Créditos de Criança, ou seja, o direito de poluir o equivalente a oito dimenores. A criança rica seria absorvida por um casal periférico do hemisfério sul, o qual deixaria de produzir oito dimenores e ainda se comprometeria a conter as emissões de carbono do novo pequerrucho.

Para que as famílias cá de baixo parem de fazer dimenores, as mulheres tomariam um anticoncepcional barato e abundante, a água de Campinas. A cidade paulista tem altos teores de hormônio feminino em seu precioso líquido (não minto). Essa descoberta recente explicou por que os homens da cidade têm a voz mais fina, desenvolvem seios e são campeões costumazes de concursos de alegoria e adereços. A progesterona encanada campineira vai ajudar mulheres de todo o mundo subdesenvolvido a não gerar dimenores e ainda transformar a cidade na maior estância hidrohormonal da América Latina (ela ainda perderá para São Francisco).

As pipas e os brinquedos de material reciclável vão substituir os videogames e os eletrônicos chineses de última geração. As roupinhas Huguinho Boss, os tenisinhos Nike, as jaquetinhas Adidas e as golinhas pólo Lacoste dariam lugar a uma prática e versátil tanguinha que seria arriada na hora do aperto e o subproduto infantil enterrado na hora, poupando fraudas plásticas biodesagradáveis e ainda fertilizando o solo.

Aos 18 anos de idade, as crianças seriam devolvidas aos seus países de origem e contribuiriam para a paz mundial. Subnutridas e raquitiquizadas, elas não teriam condições de ser empregadas em invasões no Oriente Médio, Ásia Central, África Subsaariana nem em qualquer outro show room da indústria bélica mundial.

Contribua para salvar o planeta: você, do subsolo do mundo, substitua seus oito dimenores por uma criança! Você, da cobertura triplex com vista pra tragédia global, mande sua criança pro país que não a pariu!

07 fevereiro 2008

As pessoas mudam... de sexo

Poucos vão se lembrar, mas no tempo dos nossos avós (acho que bisavós), as pessoas nasciam com o sexo definido. Eram chamados de “meninos” os que vinham com bibius e de “meninas” as criaturas que saíam do forno com a pélvis rachadinha. Tempos tranqüilos aqueles em que só havia o branco e o preto, o côncavo e o convexo, o masculino e o feminino. Hoje, as matizes do arco-íris vão do rosa-fúccia ao azul-esmeraldado e com uma ajudinha da ciência e das bebidas light e diet o número de sexos multiplicou-se assustadoramente. Você já tentou explicar para uma criança a diferença entre um gay, um travesti, um transexual e um metrossexual? Cuidado: se você falar que o metrossexual é um homem, poderá atingir de frente o conceito que seus avós tinham desse sexo.

A forma não tem mais nada a ver com o conteúdo e mudar de um sexo para outro passou a ser um esporte popular em todo o mundo. “Nasci mulher, mas no corpo de um homem. Operei! Hoje sou uma mulher no corpo vaginado de um ex-homem.” Em formulários serão comuns os campos: “Sexo: ‘masculino’. Desde quando? ‘Uns oito meses, comecei a sair com a Marli e acabei gostando da coisa...’”

Para os nascidos homens (conceito clássico) é interessante a mudança para o sexo feminino em vários aspectos. A licença maternidade é bem maior que a da paternidade, a aposentadoria pode ser feita mais cedo e as partes anatômicas extirpadas podem contribuir para a redução da fome mundial.

Já para os indivíduos tradicionalmente catalogados como mulheres, a mudança para ala dos machões também pode ser bem vantajosa. Nas sociedades machistas pós-modernas, é bem capaz que um neo-homem receba aumento de salário somente por ter avolumado a sua região pélvica. Além disso, a fabricação de milhões de próteses biláuvicas vai alavancar a indústria da reciclagem de lixo. Imagine a admiração da(o) parceira(o) ao usufruir do longue-dongue reciclado: “Querido, essa garrafa PET jamais proporcionaria tanto prazer se fosse prum aterro sanitário!”

Para os vestibulandos é um drama a mais. Além de terem de optar por uma profissão antes dos vinte anos, eles têm também de escolher o sexo em que irão atuar até terem grana para a próxima cirurgia. “Dúvida cruel: não sei se quero ser um advogado ou uma arquiteta!” Nos adolescentes, a mudança repentina de sexo está provocando conflitos familiares como faziam as tatuagens nos tempos da vovó. “Qualé, pai? Você sempre me deixou ficar até altas horas na balada!”, grita a garota, “Isso era no tempo em que você era menino, minha filha!”

Em nossos tempos modernos poucas coisas nos assustarão no campo da sexualidade. O pansexual conquistará em breve o direito de se casar com uma samambaia, o zoófilo terá autorização do Ibama e conivência do Greenpeace para montar seu harém de seriemas, catetos e marrecas e o cidadão comum vai poder deixar em branco o campo ‘sexo’ de sua carteira de identidade e optar pelo que lhe for mais conveniente (ou prazeroso) a cada momento. Mas ainda haverá aquele terrível momento em que o filho entra na sala para fazer a mais bizarra das revelações: “Papai! Mamãe! Eu sou heterossexual!”

“Onde foi que erramos, meu Deus?!?!?”

01 fevereiro 2008

Inacessível mundo novo

Um triboleitor me perguntou se quando eu enricar ele vai continuar podendo ler meus textos de graça. Respondo plagiando aquele cara que nunca se hospedou num hotel cinco estrelas: “as melhores coisas da vida são de graça”.

Inacessível mundo novo

É pura sorte nossa termos nascido numa época tecnologicamente atrasada. Chegará o tempo em que engarrafarão a luz do sol, venderão brisa com cheiro de mato e MP30 com trinados de pássaros. Quem usar a lua em poesia pagará royalties à NASA e o gajo que assobiar canções no trânsito receberá multa por infração de direitos autorais. Haverá pedágios para quem entra e para quem sai deste mundo, com visto de permanência provisório emitido por autoridade cobradora competente e renovado periodicamente, mediante módicas tarifas.

Quem viver pagará aluguel por chamar de casa este planeta. Pagará por pisar na terra e por respirar seu valioso oxigênio. Pagará por cada miligrama de O2 inalado e de CO2 exalado. Os puns motivarão processos indenizatórios por atentado à película de ozônio, que um dia fora uma grossa camada. As palavras serão patenteadas e terão de ser escolhidas com cuidado para não gerarem expressões famosas consagradas em hinos e canções, se isso acontecer o direito de pronúncia atingirá valores estratosféricos. Tudo terá seu preço, mas nada será tão caro quanto a água. Banho será privilégio de super-ricos e os demais terão de se virar com uma lavagem a seco. O cubo de gelo valerá mais do que o uísque doze anos à sua volta e os pingos de chuva ácida serão disputados a tapa.

Aquele que achar bonita uma poesia, guardará o fato para si, sob o risco de ter de pagar tarifas admiratórias. Bem poucas áreas estarão livres do alcance dos preços e o que não for taxado, será tarifado ou negociado em bolsa. Ficará tão caro existir que muitos já nascerão penhorados. Os mais feios terão a sorte de virar atração de circo e serão mantidos e alimentados pela indústria do entretenimento. Os mais fortes servirão de força motriz nos lugares que forem insalubres demais para os robôs. Aqueles que não tiverem nada de útil a oferecer passarão a vida comendo capim e tomando purgante para fornecer esterco para a agroindústria.

E pensar que tudo começou com um pedágio na Anhangüera...

Bem, meu amigo, num mundo assim, um texto meu será a última coisa que você vai querer pagar.
Ou não.
Um abraço gratuito, sem frete nem custo adicional!