30 novembro 2007

Portugal declina, Brasil segue em declínio

Ai que Portugal respondeu a carta de devolução da corte. Há 200 anos ele esqueceu nobres por aqui e seus descendentes se reproduziram como porquinhos-da-índia, (ops!, do Brasil!), viraram praga e hoje mamam gostoso o leite tipo A+ não-batizado de Brasília.

Na tentativa de tirar suas tetas da ordenhadeira, o Brasil tenta enviar esses bezerros mal nascidos para longe...
Portugal acaba de dizer que não os quer:

Carta de Recusa

Ao Ilmo Sr. Brasil
Oceano Atlântico esquina com o Mar do Caribe Leste de Tordesilhas
(Estados Unidos - fundos)
Assunto: Recusa de Devolução da Corte ref. carta de 14/11/07


Caríssimo Brasil,

Como vão as cousas contigo? Eu cá vou indo... nuns dias bate o sol, noutros não bate. Ao contrário daí, mais não bate do que bate. Confesso que quando recebi tua carta pensei que tratarias do enfadonho problema da reforma ortográfica que tu insistes em aplicar. Ao abrir o envelope, porém, preferi mil vezes que fosse o assunto das letras.

Com um lamento mil vezes maior que tua euforia, tenho de declinar de tua amável proposta de devolução da corte real. Devo lembrar-lhe de que Dom João voltou a Portugal em 6 de abril de 1821 deixando em seu lugar o príncipe regente. O que o miúdo aprontou a partir daí foi por sua conta e risco uma vez que, na primeira oportunidade que teve, ele começou a soltar gritos no Ipiranga dizendo que tu, oh Brasil, eras dono do próprio nariz.

Como bem vês, desde então estás emancipado e eu não tenho nada a ver com o que aí se passa e com os ignóbeis nobres que para aí se mudaram. Longe de mim passar por pai irresponsável que não assume a cria, mas um país de 500 aninhos já tem idade suficiente para assumir as próprias diabruras. Imagina tu se fosse eu assumir as artes de todos os meus filhos! Estaria cá a lidar com uma multidão de políticos angolanos, goanos, moçambicanos e timorenses!

Além do mais, tenho já muitos problemas criados pela dita Comunidade Européia, que nos encheu de imigrantes. E agora que estamos começando a andar para frente, não podemos servir de hotel para corruptos ultramarinos, função que tu cumpres como ninguém, oh meu filho! Perguntes para qualquer bandido renomado qual é o país dos seus sonhos e ele lhe responderá, “Brasil”!

Também podes continuar com Brasília. É uma bela cidade, mas não ornaria com a arquitetura daqui. Além disso, complicaria o tráfego marítimo de minha costa se eu a estacionasse no litoral. Por favor, não insistas, não quero tua corte em aviões com reverso travado nem em caravelas furadas mesmo que ambos fossem pilotados por terroristas suicidas.

Encerrado o caso, espero que possamos conversar de assuntos de real importância. O que achaste da última Copa do Mundo? Nosso Scolari é mesmo talentoso, não?

Um abraço de teu velho pai que só é lembrado nas horas difíceis,

Portugal

PS: Se a tua independência expirar em 2022, transfiro tua guarda aos Estados Unidos. Eles já cuidam tão bem de ti e depois não estou mais na idade de colonizar ninguém.

28 novembro 2007

Boliviano perde órgão sexual e fica mudo

Essa aconteceu no dia 18 na Bolívia e pertinho do Peru.

Furibunda com a traição, a boliviana Celita Mita arrancou de seu namorado o principal órgão sexual masculino, a língua. Ao flagrar o companheiro, Santos Alave, usando a sua habilidade em línguas em outra boca, Celita pediu uma bicotinha a qual aproveitou para morder e arrancar o órgão que já lhe dera tanto prazer.

Com a língua de fora, Alave a levou (a língua) a um pronto-socorro, porém os médicos não conseguiram reimplantar a importante peça anatômica. Agora, Alave vai ter que reaprender a falar e principalmente a fazer sexo utilizando outras partes do corpo, como o pênis, por exemplo. Há registros arqueológicos indicando que nossos bisavós faziam esse tipo de sexo bizarro.

Para quem não acredita, leia a notícia.

27 novembro 2007

Do baú da tribo: "A volta de Norman Bates"

O Diário da Tribo é mais velho do que você imagina, mas ainda mantém um corpinho de adolescente.

Esta é do fundo do nosso baú, da época em que nosso Diário era diário e o blog era uma home page.

O texto foi feito em cima de uma notícia verídica ocorrida no umbigo traseiro do mundo, os Estados Unidos, em abril de 2005.

Divirta-se com risadas cheirando à naftalina:

Psicose Urgente:
Americano mantém a mãe conservadona (em um freezer!)
FDA atesta que a velha estava imprópria para o consumo

Fábio Reynol
Direto do Motel Bates

Psicose, o mais meigo dos contos de fadas norte-americanos e eternizado nas telas do cinema, acaba de cruzar a fronteira do improvável com o bizarro. O garoto de 52 anos Philip Schuth confessou que manteve a mãe no freezer horizontal sem descongelamento automático de seu porão por quatro anos. Com isso, Schult manteve a velhinha e a sua pensão mensal conservadíssimas por todo esse tempo.


O crime, ocorrido na cidade de La Crosse (EUA), só veio à baila porque o normalíssimo Philip acordou na semana passada com a bundinha descoberta e resolveu praticar o esporte oficial estadunidense: atirar nos vizinhos. Ele armou o maior barraco e acabou tendo a casa cercada pela SWAT. Ao vasculhar a residência, a polícia só encontrou o kit básico da típica família americana: 30 quilos de explosivos caseiros e 15 armas de fogo.

Foi só depois do julgamento pelo tiro-ao-alvo na vizinhança que Philip abriu o jogo e a polícia, o freezer, encontrando a velhinha entre os hambúrgueres e os nuggets de frango. O equilibrado Philip, que jura que a mãe morreu de morte morrida, responderá por ocultação de cadáver e violação de direitos autorais da família de Hitchcock.

A terra de Norman Bates - Maior manicômio a céu aberto do mundo, os Estados Unidos é o único país do planeta onde um ladrão processa sua vítima e obtém ganho de causa na Justiça. A começar pelo presidente, todo estadunidense tem o direito de atirar em qualquer vizinho pertencente ao eixo do mal. É a democracia levada às últimas conseqüências e ultrapassando as raias da sanidade mental.

25 novembro 2007

Para ouvir com as orelhas da alma

Cantos e encontros de uns tempos pra cá, CD e DVD, do poeta catolense Chico César, é indicado para:

- Ausência aguda ou crônica de poesia.

- Materialismo arraigado com perda de noção transcedental e falta de sensibilidade na palma da alma.

- Carência de violinos flautados acompanhados de viola, violão, violoncelo, baixo e percuteria.

- Hipertensão espiritual acompanhada de falta de serenidade.


Posologia
De uma a quinze audições por dia incluindo os extras de Bethania e Ana Carolina (DVD).

Efeitos colaterais
Comportamento onírico, romantismo abrupto e sensações de pôr-do-sol ao meio-dia. Em alguns casos pode provocar insights, inspiração e poesias.

22 novembro 2007

O Fiscal - Capítulo IV e último

Termina aqui a curta e emocionante novela luso-brasileira sobre a língua que temos à boca.

Mas a Relação de Língua de Ana Pessoa e seus pseudônimos com o Diário da Tribo deve continuar enquanto Portugal estiver na península e o Brasil permanecer colônia.

Cá com vocês, o último, final e derradeiro capítulo vindo diretamente da terra de Caminha para a terra que não caminha.

Grande abraço a Ana e às Pessoas de Portugal.

Fabio Reynol
Cia. das Índias Orientais de Olhos Puxados e Peitos de Fora

O Fiscal
Capítulo IV - Ana Pessoa
Veja como tudo começou: Capítulo I

Depois lembrou-se do que o trouxera ali e, antes que a mulher falasse outra vez, apressou-se com a acusação: "A senhora fala mau português!". A autora gargalhou da cozinha, onde começou a preparar um chá. A porta entreaberta deixava ver o seu riso não contido e o homem corou de raiva. Respondeu misteriosa: "Isso não existe, senhor fiscal!" e o homem desesperou com aquela afronta. Saltou no sofá como um sapo: "Como assim, senhora?" e a mulher retorquiu calmamente: "Não há mau nem bom português, senhor fiscal. A língua é de quem a fala!".

O fiscal cortou a conversa com um gesto próprio de maestro perante a orquestra e disparou num compasso acelerado apontando o dedo indicador para o tecto: "A senhora é uma assassina de palavras: diz fato com um "c" ao meio, escreve ótimo com um "p" ao meio, são tiros directos no coração das palavras!". A mulher lançava a cabeça para trás para que as gargalhadas saíssem fluidas. Depois regressou à sala com um tabuleiro dançando nos braços ao som das chávenas que batiam delicadas nos pires.

Estavam agora sentados frente a frente, ela igual ao sol (cabelos eriçados como raios e o corpo avolumado, muito convexo) e ele igual a uma lua quase nova, minguando ainda (cabelo a escorrer pela testa e a coluna dobrada para a frente, um pouco côncavo).

Ela disse quase maternal que não era criminosa, que o português tinha vestígios de uma língua antiga e concluiu sem mais explicações: "Mas os polícias não têm de saber latim, não é assim?". Enquanto o senhor fiscal barafustava dizendo que não era polícia, a senhora espantava-se com a sua nova frase rimada. O homem escreveu no seu bloco: "problemas graves de isolamento, diz que português é latim". Depois fechou o caderno com uma violência teatral e impôs-se: "Minha senhora, eu sou o fiscal de palavras!".

A mulher olhou-o como se o visse pela primeira vez e o homem assustou-se com aquele olhar, saltou novamente no sofá e perguntou rápido: "Que foi?". A mulher abriu muito os olhos e depois os braços (a chávena muito equilibrada na mão direita, o pires pousado na esquerda). "Senhor fiscal, acabo de descobrir a sua palavra!" e o homem, um pouco mais curvado do que antes, repetiu várias vezes: "Como é que é?".

A autora sorveu ruidosa o seu chá e disse como quem revela um milagre: "Desumbigar. O senhor fiscal precisa de se desumbigar!". O homem estava confuso, repetiu mais uma vez a sua pergunta e a mulher esclareceu cheia de poesia: "O senhor fiscal precisa de sair de dentro, de se abrir ao mundo, de destorcer o cordão umbilical, de subir do ventre até aos olhos, de saltar para fora".

Fez-se silêncio à excepção do chá que continuava a estalar nos lábios da senhora. A palavra estranha ao ouvido regressava ao tímpano do homem, ganhava volume na boca, tinha um sabor qualquer a infância. O fiscal constatou: "Essa palavra não existe!", mas a mulher encolheu os ombros despreocupada. "Agora que eu a disse, passa a existir!".

O homem saltou outra vez: estava indignado. Abanou a cabeça e o bloco de notas no ar e, enquanto abria o caderno, dizia ameaçador: "A senhora pode ir presa por isto!". Ordenou muito formal: "Nome completo e profissão" e a mulher obedeceu prontamente: "Maria Apalavrada, inventora de palavras.".

A mão do homem congelou no bloco de notas. O fiscal ironizou ainda: "Ai sim? E que palavras inventa a senhora?". "Todas as que não existem e deviam ser inventadas!", respondeu criminosa a autora. O verbo desumbigar reapareceu no ouvido do homem e ele desejou secretamente que a palavra existisse. A mulher achou que tinha ganho um cliente por isso discursou: "Invento e vendo palavras. É, de facto, um óptimo negócio porque as pessoas precisam de se exprimir e não têm palavras. Você precisava do verbo desumbigar para organizar o seu pensamento. "Desumbigar" é o seu verbo, senhor fiscal! Há uma palavra para cada um de nós!".

Quase sem querer o homem riu e ela riu com ele.

Só então o homem tirou o chapéu e a mulher brincou dizendo: "Um negócio de tirar o chapéu, não é, senhor fiscal?" e ele riu com aquela frase tão bem dita. De repente, o senhor endireitou as costas, era agora mais homem do que fiscal, e quis saber: "E a sua palavra, qual é?".

A mulher sorriu o seu melhor sorriso. "Eu também tenho um verbo: inversar! Preciso do inverso das palavras, de inventar versos, de inverter o pensamento. Toda eu sou versos invertidos!".O homem recostou-se no sofá, já não saltava, as palavras ganhavam subitamente um outro sabor.

E foi assim que naquela tarde, o senhor fiscal e a inventora de palavras viram o inverso de um no outro e gostaram do que viram. Ele desumbigou e ela inversou, entre os dois havia um fio invisível de sílabas que os ligava.

No final da noite já não se sabia quem era quem, a língua de um era a língua do outro.

FIM

21 novembro 2007

A Divindade Judiciária

Queridos leitores do Diário da Tribo,

Uma juíza de uma vara do trabalho da Paraíba fez constar em uma de suas sentenças que o juiz está situado “em um lugar especial que o converte em um ser absoluto e incomparavelmente superior a qualquer outro ser material”.

Como não me atrevo a contrariar divindades, afirmo que a meritíssima tem razão tão absoluta quanto o poder nela imbuído. E envio abaixo a minha primeira sentença que será proferida assim que eu me tornar um magistrado. (Por que eu não teria também o direito de galgar os degraus do Olimpo?)

Ei-la e que seja afixada em todos os Fóruns, Tribunais e Clínicas Psiquiátricas de todo o planeta:

A Divindade Judiciária
Fábio Reynol
http://diariodatribo.blogspot.com

Um juiz jamais é acometido de frieira, furúnculo, lombriga, bicho geográfico nem outras enfermidades parasitárias que assolam a ralé dos seres mortais que está bem abaixo de sua condição de magistrado. Tampouco encravam as unhas de seus dedões judiciários.

Um juiz jamais exala mau odor por mais que negligencie o uso de desodorantes, sabonetes e todo o arsenal cosmético necessário, senão obrigatório, àqueles a quem ele julga. Pela mesma linha, um magistrado jamais apresenta chulé, uma vez que seus meritíssimos pés estão bem acima das cabeças da patuléia que depende de seus pareceres.

Todo juiz é descendente dos elfos de Valfenda, possui uma aura bioluminescente e uma linguagem própria. Tão própria que muitas vezes é legado ao próprio juiz, e somente a ele, entender o seu inefável significado. A prosopopéia do magistrado soa como sinos musicais enquanto sua boca exala o aroma de alfazema e lírios europeus. O DNA élfico também produz sedosidade em seus cabelos tornando os xampus supérfluos e a caspa inexistente no couro capilar da magistratura.

O juiz não habita construções de alvenaria, mas o Olimpo, de onde enxerga por entre as nuvens a iniqüidade humana partilhando com seus pares o chá da sabedoria e os biscoitinhos do discernimento. Qual Moisés portando as tábuas da lei, o magistrado é o portador oficial da vontade divina sobre a terra a qual lhe deve adoração, louvor e submissão sob pena de ter a ira divina (e judiciária!) sobre a própria cabeça.

Juízes não conhecem a morte, prerrogativa reservada aos mortais. Ao se cansarem desta vida, simplesmente agendam uma transferência que é feita por querubins (anjos estão aquém de sua glória) para o tribunal celestial onde, em vez de serem julgados como as demais almas, formam uma supremíssima corte a qual lado a lado com Deus (quando não um pouco acima dele) julgam os que não tiveram o dom de nascer magistrados.

Quanto à sentença? Bem, os querelantes que se entendam porque esta Divindade Judiciária não pode desperdiçar seu preciosíssimo tempo com questiúnculas que atormentam os reles mortais.


Juiz Recém-empossado por Zeus

14 novembro 2007

Carta de Devolução da Corte

Terceiro Mundo, novembro de 2007.

Ao
Exmo. Sr.
Portugal

Península Ibérica, nº2
Europa

Assunto: Devolução da Corte Portuguesa


Querido Portugal,


Com imensa euforia, comunico-lhe que no próximo 2008 completar-se-ão duzentos anos que sua corte se afixou cá em nossas terras, completando assim o prazo máximo de hospedagem neste hotel tropical. Por esse motivo, no fim deste ano, lhe enviaremos de volta seus descendentes diretos (não os de sangue, mas os sanguessugas) que hoje atendem em Brasília.

Qual craca em popa de caravela, esse pessoal há dois séculos se apega aos palácios e até hoje teima em tentar nos governar, justamente a nós, um povo avesso às leis, injustiçado pela própria Justiça e desgovernado por natureza. Nada pessoal contra os governantes, juízes e legisladores, é que somos altamente alérgicos a eles. Toda vez que uma nova trupe sobe as rampas do Planalto e do Congresso, milhares de nós acabam morrendo em epidemias de fome, de violência e até de falta de esgoto.

Além do mais, Napoleão hoje atende em Washington, converteu-se ao Criacionismo de Guerras e perscruta cada quartinho de empregada deste planeta. Portanto, não há razões para que a "nobreza" continue a se esconder por aqui. Entendemos também que, a esta altura da história, a corte não pode mais ser considerada portuguesa; no entanto, a observar suas atitudes, tampouco pode ser chamada de brasileira. Assim sendo, despacharemos a comitiva real-republicana tão logo encontremos uma frota de aviões com o reversor travado grande o suficiente para abrigar a superprodução de corruptos made in Brazil.

Aqui vão alguns conselhos de quem está acostumado a lidar com esses nobres: não os alimente, não os remunere e o mais importante: não os deixe criar leis, eles vão tentar inventar impostos provisórios de duração eterna. Se tiverem acesso ao poder, vão sugar a sua energia a ponto de deixá-lo no escuro e ainda vão dizer na maior cara-de-pau que foram pegos de surpresa.

À guisa de uma compensação, ainda que irrisória, deixaremos com V.Sa. a capital toda. Sentiremos falta da catedral de Niemeyer, da ponte JK e do Paranoá. Eles serão, no entanto, um preço pequeno a se pagar pela paz e pela justiça. Não se preocupe com os gastos. Brasília é patrimônio da humanidade, portanto divida a conta da manutenção com todos os humanos.

Tampouco se preocupe conosco. O brasileiro só deu certo com o desgoverno, isso lá antes dos idos de 1500. Dentro em breve retornarei à mata com meu povo, de onde nunca deveríamos ter saído, e tiraremos as roupas, as quais nunca deveríamos ter vestido. Voltaremos, enfim, a ser felizes nos preocupando apenas com a caça, a pesca e os banhos de cachoeira. Ficaremos mais tranqüilos sabendo que mesmo o Xingu de fora estaremos com o nosso curió mais protegido.

Certo de sua compreensão paterna, despeço-me com filial abraço.

Do sempre seu,

Brasil
ECOrruptos Resort

Obs. importante: Castre o chefe do Senado ou o mantenha longe das jornalistas!
Assine a carta, postando um comentário:

12 novembro 2007

O fiscal - Capítulo III

Como grafou o grande profeta do caos, Millôr Fernandes:

"Devemos ser gratos aos portugueses. Se não fossem eles estaríamos até hoje falando tupi-guarani, uma língua que não entendemos."

Então obrigado Roberto Leal, Sérgio Godinho, Fernando e Ana Pessoa. Se não fossem vocês esta tribo não seria a mesma. Não teríamos a tanga para cobrir as vergonhas e a sociedade urbana para acobertar os sem-vergonhas.

Também não viveríamos essa fascinante aventura ultramarina Belgavista-Diário da Tribo (com escala em Congonhas), pela qual escorregamos na língua de nossos avós com a pena de Ana Pessoa, representando o português do reino (reynol) e Fábio Reynol, mais brasileiro que a impunidade, escrevendo com o linguajar subversivo da colônia.

Pessoana,

Escreverei com a tua língua e tu, com a minha.
Se um nos entendermos, reescreveremos Caminha.

Superabraço para ti!


O Fiscal
Capítulo III - Fábio Reynol
Leia também o Capítulo I e o Capítulo II


A mulher virou-se e foi à cozinha. Enfim o homem encontrara alguém que reconhecia e até respeitava o seu honroso cargo auto-proclamado de fiscal da língua portuguesa. Isso o fez lembrar de sua última diligência, na qual interpelou um padre pelo uso inadequado da palavra "mesmo" como pronome relativo. Sem delongas, ele entrara na sacristia logo após a missa e fora direto ao sacerdote:

- Desculpe-me, reverendo, mas um erro grosseiro foi cometido hoje em sua homilia.

- A que se refere? Virou-se o padre com ares de preocupação.

- Lembra-se de quando se referiu ao cálice do altar?

- Sim. O que o senhor tem contra o mesmo?

- É exatamente isso, "o mesmo" não é adequado. Na verdade, eu o considero um erro horroroso de estilo. Eu devo pedir que o senhor não use mais "o mesmo".

- Quer dizer que eu não posso usar o mesmo porque o senhor não gosta do estilo dele?

- É mais do que isso, reverendo. Ele faz parecer que o senhor é pouco versado na língua, compreende?

- O senhor está dizendo que o cálice que eu utilizo na liturgia faz as pessoas julgarem a minha educação, por isso eu não devo mais usar o mesmo?

- O senhor não entendeu, padre. Não é o cálice a questão, ele pode continuar, só peço que o senhor não use mais "o mesmo".

- Que cálice devo utilizar então?

O fiscal perdeu a paciência e as estribeiras e berrou com o funcionário de Deus:

- O MESMO, PADRE!

E o padre desceu das tamancas eclesiais:

- Ponha-se para fora daqui seu maluco de... As demais palavras do padre lhe escaparam da memória, talvez por serem totalmente inadequadas a um vocabulário sacerdotal. Enquanto o homem de Deus disparava ofensas contra o fiscal, o homem dos vocábulos foi arrastado para fora da igreja pelos braços do sacristão. Desde então ele decidiu apresentar suas credenciais de fiscal antes de interpelar qualquer outro infrator. Isso deveria lhe garantir um mínimo de respeito.

O tratamento que agora recebia da mulher era prova disso. Nunca havia sido recebido com tanta deferência desde que se aventurara nessa perigosa profissão. O espanto pela educada recepção e o flashback da humilhação na sacristia o fizeram distrair a ponto de só agora perceber o local onde estava. A sala parecia ter saído de um página de Eça de Queiroz. Uma cristaleira do século XIX com licoreiras coloridas parecia ser a peça mais nova do recinto. Em cima do móvel um galo de louça preto de crista vermelha fitava uma coleção de mais de vinte pratos ornamentais na parede oposta. Pesadas cortinas de veludo mantinham o sol quase completamente do lado de fora.

Sem tirar o traseiro do assento, o fiscal esticou o pescoço para os lados aproveintando-se da ausência momentânea da proprietária. Observou o ponto que mais lhe chamou a atenção e o anotou imediatamente em seu bloco: "Ausência de livros de qualquer espécie. Sem evidências de consultas freqüêntes à gramática, nem mesmo um mini-dicionário à vista. Possível biblioteca no andar superior (?)". Deparou-se de repente com uma foto antiga na parede de uma casa de campo em meio a um vinhedo, imaginou que lugar seria aquele e meteu novamente o bloco no bolso. (continua)


06 novembro 2007

A mosca-de-banheiro

Meu amigo Joe Jotha Santos F.C., jornalista profissional e filósofo de responsa, suscitou uma pérola merecedora de inserção nos anais da filosofia contemporânea. Em seu blog Coluna Livre, Jotha Santos se pergunta por que as moscas de banheiro só são encontradas em seu habitat azulejado do W.C. A preocupação do pensador nos remete a duas outras reflexões ainda mais profundas:

1 – Onde viviam essas mosquinhas antes da existência dos banheiros? e


2 – Qual a qualidade do banho de Jotha Santos se ele usa o tempo de seu asseio em elucubrações entomológicas?

Vamos nos ater à primeira questão, uma vez que a segunda afeta exclusivamente às pessoas de seu convívio, do qual só participo virtualmente por falta de tempo e agora por uma questão aromática.

O importante é que Jotha (lê-se “jota”) suscitou-me esse ensaio que segue abaixo o qual ultrapassa toda e qualquer cultura inútil por ser também irrelevante, inverídico e completamente desnecessário, todos os atributos fundamentais para figurar neste Diário da Tribo.

Então lá vai:

A mosca-de-banheiro
Fábio Reynol

A mosca-de-banheiro é uma alucinação coletiva que habita os sanitários domésticos, daí ela pertencer à família dos psicodídeos (ou dídeos que se reproduzem na psiqué humana). O cloro remanescente da limpeza dos azulejos evapora com a água quente do banho e é absorvido pelas fossas nasais do banhista que começa a ter alucinações dípteras psicodídeas.

Antes da invenção do banheiro, a mosca-de-banheiro era chamada de mosca-sem-teto e não atormentava ninguém, uma vez que os banhos (quando havia) eram de cachoeira e a céu aberto, sem paredes nem teto onde elas pudessem se apoiar e sem cloro que os banhistas pudessem cheirar. Elas depositavam seus ovos em assentamentos clandestinos e eram constantemente desalojadas por ordens judiciais de reintegração de posse.

No Brasil, encontramos três tipos principais de alucinação entomológica sanitária: Psychoda alternata, Psychoda cinerea e Psychoda satchelli. O melhor tratamento para essa patologia é parar de lavar o banheiro. Em pouco tempo as alucinações desaparecerão e em seu lugar surgirão moscas reais que botarão seus ovos nos restos de cabelo e matéria orgânica morta depositada nos ralos e encanamentos de esgoto.

Um bom psiquiatra também pode ajudar. Mesmo que ele não livre o seu banheiro das mosquinhas, ele pode auxiliá-lo a se concentrar no banho em vez de ficar pensando sobre a origem da fauna sanitária ou gastar o próprio tempo a escrever despautérios sobre pensamentos alheios absurdos da hora do banho e ainda publicá-los em um blog.

Importante: O Diário da Tribo não se responsabiliza por reações adversas de professores de Biologia que porventura encontrem o texto acima num trabalho escolar.