03 agosto 2011

Lições de Klink

Hoje fui à Feira Literária do Tocantins e assisti à palestra do Amyr Klink.

Ele contou que uma de suas maiores aventuras foi dar a volta ao mundo contornando a Antártica. Foi a primeira vez que um barco deu uma volta no pólo sul sem escalas.

O seu maior medo eram as tormentas, muito comuns na região. Para realizar o feito ele teria uma janela de pouco mais de cem dias, coincidente com o ápice do verão, para que não houvesse blocos de gelo ameaçando a segurança da aventura.

Ironicamente, o maior problema da viagem foram as calmarias. Nessas horas, não batia vento e o veleiro não saía do lugar.

Bem na metade da jornada, ele viu seu plano indo por água abaixo. Ele não estava conseguindo fazer o tempo médio estipulado para cada dia e naquele ritmo não conseguiria terminar o contorno do Pólo antes de o inverno chegar e encher o mar de gelo.

Já pensando em parar na Austrália ou na Nova Zelândia, Klink recebeu um conselho leigo que mudou o seu rumo. Sua mulher, Marina (ele só poderia ter uma mulher com esse nome!), que nada entendia de navegação e o esperava em terra firme no Brasil, sugeriu pelo rádio que ele aproveitasse os ventos das violentas tempestades para cumprir o cronograma.

Só que ele precisaria de dados meteorológicos precisos para poder seguir as tormentas e ele não tinha isso.

A mulher então vendeu em 11 dias a casa que o casal tinha lutado 10 anos para conquistar. Com o dinheiro, ela contratou um sofisticado serviço de meteorologia baseado nos Estados Unidos que passava informações meteorológicas em tempo real do Pólo Sul.

Com os dados na mão, Marina foi guiando o marido, ajudando-o a apontar sua vela na direção dos ventos e a cumprir a sua mini volta ao mundo.

A travessura fez Amyr terminar a tempo a travessia e descobrir que o valor que a gente coloca nas coisas são tão voláteis quanto elas próprias. "Diante da emoção daquela conquista, a minha casa tinha o mesmo valor que um palito de fósforo", declarou o aventureiro dizendo ter comemorado em alto estilo graças também à esposa. Ela havia escondido duas garrafas de champanhe no barco, só reveladas quando a aventura terminou.

Para mim, casamento é isso: um maluco que toma para si a loucura de outra pessoa, chama isso de sonho e o ajuda a realizá-lo cometendo insanidades ainda maiores.