Os cadernos da contrabdução
Depoimentos de ETs vítimas de terráqueos
Era uma tarde estrelada de domingo. Estávamos passeando por Orion XT 4753 quando papai percebeu que o reator de seu novo Zébulon Ralóide estava ficando sem antimatéria. Ele nos avisou sobre o problema e avistou pelo retrovisor uma região periférica da Via Láctea que lhe parecia amistosa (para papai, todo o universo era amistoso!). “Vamos lá”, disse ele todo ansioso por conhecer um sisteminha planetário novo.
De longe avistamos uma bolinha azul pouco esfumaçada. Mamãe achou um tanto azul demais para o gosto dela e chegou a pedir para que papai estacionasse numa bolota vermelha um pouco antes. Papai lhe respondeu que era bobagem, que o azul era bem mais bonito e que o vermelho deveria ser superpopuloso, violento e todo poluído, problemas típicos da formação de vida não-inteligente. Não foi a primeira vez que papai se meteria em problemas por não escutar mamãe, mas com certeza foi a última.
Papai decidiu pousar numa zona de transição entre as áreas azul e bege do planeta. Esse é um procedimento padrão para avaliar de perto qual a superfície mais segura para descer. Foi aí que ele cometeu seu segundo erro, ele escolheu a área bege. Depois descobri que a azul era 100% líquida e habitada por seres inofensivos. A bege, bem menor, abrigava criaturas esquisitíssimas cuja impressionante periculosidade nós ignorávamos completamente.
O Zébulon pousou sobre uma elevação de onde se avistava uma espécie de antena branca em formato de cruz. Focando melhor o paraventoestelar do Zébulon, descobrimos depois que a antena era, na verdade, uma reprodução ampliada da espécie que habitava o planeta em uma pose de braços abertos.
Percebemos isso quando saímos do veículo. Umas doze criaturas, parecidas com a antena branca, cercavam a nave. Começaram a emitir sons muito estranhos e mamãe, sempre muito esperta, deduziu que aquilo era algum tipo de linguagem. “Não fale asneiras, mulher”, respondeu papai à hipótese de mamãe. “são só animais com fome. Pegue a caixa de lépigos crocantes e jogue para eles”.
Sempre mais sensata, mamãe não obedeceu e ligou o tradutor multiuniversal paralelo que sempre levava dentro da bolsa. Mesmo assim, só conseguiu receber palavras sem sentido: “Perdeu! Perdeu, mano! Passa a chave. A barca é nossa!” [a transcrição completa e precisa encontra-se anexada aos autos]. Ao ouvir a tradução, papai abriu um risinho de deboche, “Ainda tentando contato com a vida selvagem? Eu disse que são apenas grunhidos”, e jogou um pacote de lépigos na direção da cabeça daquele que imaginou ser o chefe do bando. Foi aí que a coisa ficou feia.
O bando começou a disparar rajadas de mini-setas metálicas. Papai teve o corpo inteiro atravessado por elas e vi mamãe levar uma no tórax e ter todos os seus três dedos da mão esquerda arrancados por uma das setas. Eu voltei assustado para o banco da frente do Zébulon, e apertei o botão de emergência. O veículo abriu o portal de retorno e disparou de volta para casa.
Nunca mais vi meus pais. Anos mais tarde, recebi um relatório da última missão de observadores que passou pela região. Dizia que mamãe estava bem e tinha sido eleita deputada estadual com a ajuda do pessoal que atirou nela. Papai estava respirando por aparelhos num lugar chamado Souza Aguiar. Em sua ficha, ele estava identificado apenas como “desconhecido. Integrante do bloco Caras do Outro Mundo”.
Depoimento de Galigórnion Y Zptxon Jr., filho de Landríktcia Y e de Galigórnion Zptxon.
Se você também tem algum parente ou amigo vitimado pelas criaturas abomináveis da Terra, envie sua comovente história para a gente.
Depoimentos de ETs vítimas de terráqueos
Era uma tarde estrelada de domingo. Estávamos passeando por Orion XT 4753 quando papai percebeu que o reator de seu novo Zébulon Ralóide estava ficando sem antimatéria. Ele nos avisou sobre o problema e avistou pelo retrovisor uma região periférica da Via Láctea que lhe parecia amistosa (para papai, todo o universo era amistoso!). “Vamos lá”, disse ele todo ansioso por conhecer um sisteminha planetário novo.
De longe avistamos uma bolinha azul pouco esfumaçada. Mamãe achou um tanto azul demais para o gosto dela e chegou a pedir para que papai estacionasse numa bolota vermelha um pouco antes. Papai lhe respondeu que era bobagem, que o azul era bem mais bonito e que o vermelho deveria ser superpopuloso, violento e todo poluído, problemas típicos da formação de vida não-inteligente. Não foi a primeira vez que papai se meteria em problemas por não escutar mamãe, mas com certeza foi a última.
Papai decidiu pousar numa zona de transição entre as áreas azul e bege do planeta. Esse é um procedimento padrão para avaliar de perto qual a superfície mais segura para descer. Foi aí que ele cometeu seu segundo erro, ele escolheu a área bege. Depois descobri que a azul era 100% líquida e habitada por seres inofensivos. A bege, bem menor, abrigava criaturas esquisitíssimas cuja impressionante periculosidade nós ignorávamos completamente.
O Zébulon pousou sobre uma elevação de onde se avistava uma espécie de antena branca em formato de cruz. Focando melhor o paraventoestelar do Zébulon, descobrimos depois que a antena era, na verdade, uma reprodução ampliada da espécie que habitava o planeta em uma pose de braços abertos.
Percebemos isso quando saímos do veículo. Umas doze criaturas, parecidas com a antena branca, cercavam a nave. Começaram a emitir sons muito estranhos e mamãe, sempre muito esperta, deduziu que aquilo era algum tipo de linguagem. “Não fale asneiras, mulher”, respondeu papai à hipótese de mamãe. “são só animais com fome. Pegue a caixa de lépigos crocantes e jogue para eles”.
Sempre mais sensata, mamãe não obedeceu e ligou o tradutor multiuniversal paralelo que sempre levava dentro da bolsa. Mesmo assim, só conseguiu receber palavras sem sentido: “Perdeu! Perdeu, mano! Passa a chave. A barca é nossa!” [a transcrição completa e precisa encontra-se anexada aos autos]. Ao ouvir a tradução, papai abriu um risinho de deboche, “Ainda tentando contato com a vida selvagem? Eu disse que são apenas grunhidos”, e jogou um pacote de lépigos na direção da cabeça daquele que imaginou ser o chefe do bando. Foi aí que a coisa ficou feia.
O bando começou a disparar rajadas de mini-setas metálicas. Papai teve o corpo inteiro atravessado por elas e vi mamãe levar uma no tórax e ter todos os seus três dedos da mão esquerda arrancados por uma das setas. Eu voltei assustado para o banco da frente do Zébulon, e apertei o botão de emergência. O veículo abriu o portal de retorno e disparou de volta para casa.
Nunca mais vi meus pais. Anos mais tarde, recebi um relatório da última missão de observadores que passou pela região. Dizia que mamãe estava bem e tinha sido eleita deputada estadual com a ajuda do pessoal que atirou nela. Papai estava respirando por aparelhos num lugar chamado Souza Aguiar. Em sua ficha, ele estava identificado apenas como “desconhecido. Integrante do bloco Caras do Outro Mundo”.
Depoimento de Galigórnion Y Zptxon Jr., filho de Landríktcia Y e de Galigórnion Zptxon.
Se você também tem algum parente ou amigo vitimado pelas criaturas abomináveis da Terra, envie sua comovente história para a gente.
Um comentário:
Não tivesse uma flamejante e mal disfarçada crítica seria de rolar de rir. Sabe como é: quem ri de si não paga ingresso.
Abraço.
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