– Por que você tem tantas pilhas, dindo? – perguntou Gabriel, de três anos, olhando para a minha montanha de pilhas usadas no balcão da cozinha as quais eu jurava levar um dia ao descarte. Minha mulher já havia perdido as esperanças de vê-las fora de casa. Eu não era relapso. Eu só não me lembrava de pegá-las quando saía. Só isso. E elas ficavam lá, amontoadas ao lado do microondas, entre o galheteiro e o pote de biscoitos.
– É que a gente não pode jogar pilha no lixo, Gabriel.
– Por que não?
– Porque o lixo que vai no saco é enterrado. Aí, vai sair uma aguinha suja das pilhas. Essa aguinha vai sujar a terra, vai escorrer para o rio e matar todos os peixes – disse eu orgulhoso de estar inculcando a última palavra em consciência ecológica naquela cabecinha fresca.
– Deixa eu ver – respondeu o pequeno estendendo uma mãozinha bolachuda pedindo um objeto para análise.
Dei-lhe a mais colorida de todas, imaginando que ele iria fazê-la de brinquedo, talvez um foguete espacial ou um canhão laser para o seu carrinho de polícia. Em vez disso, ele segurou a pilha, olhou-a por todos os ângulos girando-a com a mão fechada e finalmente juntou-a ao ouvido dando uma chacoalhadinha. Franziu a testa decepcionado:
– Mas eu não estou ouvindo nenhuma água aqui dentro!
Fiquei congelado olhando aquela carinha brava ansiosa por resposta. E agora, Fábio, seu jumento? Explica para ele como é que os metais pesados se decompõem e contaminam o solo. Como uma pilha seca, sem nenhum barulho de líquido dentro, pode soltar um xixi mortal para o planeta? Por que eu não chacoalhei uma pilha na orelha da minha professora de química do colégio? Essa saia-justa era para ser dela! Tive vontade de responder: “pergunte para a mãe da sua amiguinha Júlia que é PhD em Química! Ela vai provar pra você que eu não sou mentiroso!” Também pensei em: “vá procurar no Google, seu espertinho! Você sabe melhor do que eu que é lá que estão todas as respostas do mundo!” Mas por fim optei por uma saída adulta:
– Vamos brincar de carrinho?
– Vamos!!!
Ainda sinto que devo uma aula de química ao meu afilhado. De qualquer maneira, entendi finalmente o aviso das embalagens de pilhas: “mantenha longe do alcance de crianças”.
11 dezembro 2008
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2 comentários:
Oi Fabio, tudo bem!
Tô atrasada mais ainda tá valendo,Feliz Ano Novo!!!
Um abraço
Eu ouço cada uma que deveria escrever pra não esquecer. Minha sobrinha falando, depois de eu ficar falando do Papai Noel e de como o presente chegaria em casa: "Tia, você sabe que papai Noel não existe, né?"
{D.}
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