25 julho 2009

Agradeça mais e por tudo

Agradeça mais e por tudo
Fábio Reynol

Reagimos imediatamente ao mal que sofremos, mas somos apáticos a todo bem que recebemos. Temos um palavrão pronto para quem nos fecha no trânsito, para quem nos empurra dentro do ônibus, para os que passam na nossa frente na fila da padaria... Conseguimos incluir em nossa ira até outras gerações do agressor e, se houver chance, revidamos com a mesma moeda ou com uma agressão maior. Em todos esses casos, nosso sangue se encharca de cortisol fragilizando o coração ao longo de anos de xingamentos e indignações entaladas.

Por outro lado, recebemos diariamente uma avalanche de benefícios que tomamos por “naturais”, e por isso, nos são invisíveis. Ao acordar, recebemos raios de sol que nos fazem liberar serotonina, um santo estimulante para enfrentar o dia. Nossos pulmões não pararam de funcionar, há ao nosso redor oxigênio de sobra para alimentar o corpo e acalmar a mente. Ao longo do nosso trajeto há outros seres que contribuem para a nossa existência, alguns até humanos. Um que acordou cedo para assar o seu pão, outro que também madrugou para transportá-lo ao trabalho, há ainda o que criou a empresa em que você trabalha e todos os seus colegas que a mantém, graças a todos eles você tem um emprego. Tudo isso não é nada banal, apesar de enxergarmos desse modo. Mas basta um elo se quebrar para amaldiçoarmos nosso dia. Se o carro não pega, a padaria não abre, a empresa vai à bancarrota, praguejamos imediatamente.

A reação à montanha de coisas boas que ganhamos todos os dias é o simples e poderoso “obrigado”. Como tudo de bom que nos acontece, o agradecimento sincero também não é nada banal. É o reconhecimento de que não temos como retribuir por tudo que recebemos de graça. Isso vai muito além do pagamento pelo pão do seu café da manhã. Nossa cultura mercantilista nos faz etiquetar quase tudo, nos fazendo esquecer que é impossível dizer quando custa as coisas mais básicas e fundamentais à vida. Quer exemplos? Sabemos o preço de uma Ferrari, de uma caneta de grife e da mansão dos nossos sonhos. Contudo, quanto você daria por 24 horas de oxigênio se estivesse confinado numa câmara hermética? Uma pequena explosão na superfície do sol em nossa direção poderia queimar o nosso planetinha e varrer num átimo os projetos que carregamos. Quanto você pagaria para o Sol continuar nascendo suavemente a cada manhã?

As coisas mais valiosas para a nossa vida não são compráveis. Se o fossem não teríamos como pagá-las. Admitir essa verdade é dizer “obrigado”. Você está respirando? Aquele vasinho de violetas da sua cozinha é co-responsável por isso. A plantinha produz parte do oxigênio que mantém você vivo, e mesmo assim, ninguém a agradece por isso. Seu carro pegou na primeira vez que você virou a chave, mas como em sua cabeça é isso mesmo que deveria acontecer, não há um “obrigado!” ao universo. Uma cadeia de boas ações se desenrola durante o nosso dia e sequer a reconhecemos, por isso ficamos cada vez mais cegos e insensíveis à vida.

De outro lado, se começamos a agradecer e enxergar cada benefício recebido, vamos perceber que eles são ilimitados. Não haverá um dia em que não exista algo novo para se agradecer. Uma das consequências disso é que treinaremos nossa visão para mirar as coisas boas. Com o tempo, perceberemos que há sempre algo positivo em tudo que passamos. Sairemos do nosso castelinho de mágoas e começaremos a enxergar o mundo com uma visão mais ampla. Nesse ponto, estaremos perto de uma das mais nobres virtudes, a da compreensão. Fruto de outras capacidades raras como a compaixão e a lucidez, a compreensão é uma conquista exclusiva daqueles que conseguem enxergar a realidade sem deformações.

Há algum tempo, eu estava guiando por uma via movimentada quando outro motorista cortou a minha frente sem dar sinal me fazendo dar uma brecada brusca. “O que esse cara tem na cabeça!?”, gritei. Minha amiga Beth, que estava ao meu lado, respondeu “Fique calmo, o pai dele morreu, ele perdeu o emprego e a esposa acabou de brigar com ele”. A construção imaginária que ela usava para receber as agressões também se tornou uma ferramenta para mim e o ódio momentâneo perdeu a razão de ser. Agradecer pelas coisas boas é caminho para agradecer por tudo, até pelo que não consideramos “bom”. A fechada que levamos no trânsito pode servir tanto para testar nossos reflexos e atenção como para treinar o domínio de nossas próprias emoções. Com isso, em vez de cortisol, nosso corpo se encherá de endorfinas revigorando alma, mente e prolongando a vida do coração. Mas isso só vem depois de muitos e muitos “obrigados”.

4 comentários:

carla disse...

Muito OBRIGADA, Fábio!
Adorei ler isso, especialmente no dia de hoje!
bjo
Carla

Anônimo disse...

Olá...já fazia algum empo que não comentava nada,..mas como sempre tu acertaste na mosca.
Procure o bem naquilo que não gostas...belas e sábias palavras.
Obrigado
JB

Anônimo disse...

Muito boa esta mensagem, Faz com que a gente, se sinta mais feliz e agradeça a DEUS, todos os dias por ao menos estar vivo(s), "Que DEUS o abençoe por cada segundo de sua vida."

Anônimo disse...

Eu nem sei como saiu blog jb ,eu nem tenho blog algum....mas complementando o dito acima....vamos procurar além do "gosto ou não gosto"e ver as coisas com outra visão,com mais gratidão pelas coisas simples que diariamente nos são dadas pela natureza.
Embora ela ultimamente anda reclamando muito e cobrando o mal por nós(humanos?)a ela causada.
Abraço
JBF