27 setembro 2007

Santa Ignorância, sai deste mundo que te pertence!

Santa Ignorância nasceu na África, foi companheira íntima do primeiro homem nascido sapiens. Ela não descendeu de símios, mas do próprio sopro humano. Por isso, seus devotos acreditam que suas árvores genealógicas nada têm a ver com a dos macacos, talvez porque os chimpanzés tenham demonstrado muito mais sabedoria ao não descer das árvores.

Ignorância teve uma vida tranqüila, pois nunca deixou de encontrar quem a acolhesse. Com o tempo, o número de seus devotos aumentou exponencialmente. Parideira que só ela, sua descendência faz a explosão demográfica chinesa parecer um ridículo traque. Viajou o mundo levando paz aos conformados, colo aos preguiçosos, tibieza aos indiferentes e alento aos cansados de pensar. Fundou instituições no Oriente Médio, Ásia, África e Europa. Arregimentou povos da América e da Oceania. Agrupou seus fiéis sob as mais diversas bandeiras. Conhecida pelos gregos como Santa Apedeuta, ela quase chegou a ser banida da Grécia Antiga, até Sócrates admitir que quanto mais ele aprendia, mais Ignorância aparecia.

Santa Apedeuta é, de longe, a entidade mais adorada em todo o planeta. Ela continua viva e atuante até hoje e sendo cultuada até por religiões que não cultuam santos e por ateus que nem acreditam na existência da santa. Sua orgulhosa humildade a faz ser idolatrada por chefes de estado e é extremamente influente sobre os povos que neles votam. É autora dos maiores milagres da história, é capaz de ressuscitar preconceitos mortos há séculos; promover genocídios em nome do amor e guerras em nome da paz. Santa Ignorância tem muito de Satanás.

17 setembro 2007

Mamodecobra Parte V - Administração de Pizzaria

Mamodecobra Parte V
Capítulo 8.492
Administração de Pizzaria

No Brasil, corrupto que se preze deve ser também um ótimo pizzaiolo. Para o estrangeiro que lê este indeclinável manual cabe uma explicação. De modo diferente à Itália, a pizza por aqui é parte indissolúvel da cultura corruptiva brasileira. Nestas terras, todos (absolutamente todos) os desfechos processuais contra corruptos de alta classe ($$$) contam com a cheirosa iguaria italiana para encobrir o mau cheiro remanescente. Ações judiciais, processos de cassação e até multas de trânsito contra os poderosos ($$$) terminam numa gaveta e os indiciados numa pizzaria.


Um leitor do mundo civilizado, que só conhece o Brasil pelos jornais, chegou a me perguntar se a palavra “pizza” teria aqui o significado de “cadeia”. Ele queria entender a expressão “terminar em pizza”. Como explicar para ele que essa pizza significa pura e simplesmente pizza? Acostumado à física newtoniana, o nobre estrangeiro pensa de acordo com uma fórmula estrita: corrupção + julgamento = punição. A sofisticada criatividade brasileira (uma evolução da barbárie) gerou uma nova fórmula que não tem o compromisso com a lógica:


corrupção + julgamento + $$$ = calabresa com borda recheada de catupiry


Como essa impressionante fórmula, incompreensível aos cérebros mais privilegiados do mundo que bebe água sem germes, foi desenvolvida é uma longa história. O brasileiro não só acrescentou uma parcela ($$$) à equação original e inverteu seu resultado como também criou um ambiente propício para que ela fosse verdadeira em qualquer situação de temperatura e pressão, seja qual for o tamanho ou o peso do primeiro fator, a corrupção. Finalmente, a ciência encontrou um elemento mais imutável do que a velocidade da luz proposta pela teoria da relatividade de Einstein, a pizza brasileira!


É bom explicar que parte desses desfechos impressionantes vem do fato de os corruptos serem julgados por seus pares. Vale a máxima: ladrão que perdoa ladrão tem mais futuro na corrupção. Uma intrincada e emaranhada rede, bem maior que a internet, liga o rabo de cada corrupto a centenas de rabos de outros colegas. Quando um corrupto entra na berlinda, uma mensagem é enviada aos rabos dos corruptos a ele conectados informando que ele deve sair da reta. Para isso, o jeito mais seguro é tirar da mesma reta o rabo do parceiro em perigo por mais preso que ele possa estar.


Esse avançado sistema de defesa protege o maior patrimônio ecológico-artístico-científico-cultural do Brasil, a corrupção. A espécie que a pratica, por sua vez, degrada todo o patrimônio ético-financeiro-moral do país e destrói o ecossistema que permite que o chamemos de nação, uma vez que seu povo não goza desses direitos e os que gozam, não podem ser chamados de brasileiros.