12 julho 2007

Manual da Moderna Corrupção Brasileira

Queridos leitores diatríbicos, é com incorruptível orgulho que anuncio a publicação do primeiro folhetim deste respeitável periódico eletrônico: o Manual da Moderna Corrupção Brasileira.

Nesta semana, vocês vão ter que se contentar com o prefácio. Nas futuras, publicarei capítulos descontínuos e fora de ordem. Também não serão todos publicados no site por óbvios motivos capitalistas: quem vai comprar um livro que está 100% na internet? Ainda mais quando o público alvo é especializado em fraudes, rombos e desvios!

Aos apressadinhos vou logo dizendo que não adianta procurar nas livrarias. A impressão se encontra em fase de licitação na qual ganhará a editora que oferecer a melhor propina (até agora a Gráfica do Senado está na frente). Infelizmente, não consegui enquadrar esta obra nas leis de incentivo à cultura por se tratar de material didático. De qualquer forma, a necessidade imperiosa deste povo de adquirir conhecimentos ilícitos será o maior catalizador de sua publicação.

Enquanto o supercatatau literário não entra nas rotativas, os corruptos que se prezam terão que absorver as gotas de conhecimento publicadas no Diário da Tribo ou aprender na raça, ou seja, lendo os jornais diários.

A você, leitor honesto, mate a sua curiosidade sobre o supramundo da corrupção enquanto ele mata você aos poucos. De minha parte, só roubarei o seu tempo.

Boa leitura.

Manual da Moderna Corrupção Brasileira

Prefácio

De início peço desculpas ao leitor deste pioneiro manual. Tentei com fervor e afinco, todavia não encontrei um corrupto ilustre para prefaciar esta edição. A bem da verdade, corruptos famosos encontrei muitos, entretanto nenhum disposto a honrar com uma mera rubrica o primeiro grande manual da corrupção brasileira. Corruptos são assim mesmo, humildes demais para se admitirem como tais. Talvez pelo mesmo motivo nenhum deles dignou-se a escrever duas ou três linhas que fossem para abrir esta inédita obra com chave de ouro superfaturado.

Tampouco se debruçaram a engendrar um guia tão útil aos iniciantes do ignóbil mundo corruptivo. Coube a mim, mero pensador amador e jornalista profissional que nunca teve a oportunidade de mamar nas copiosas e impudicas tetas do poder, deitar em papel reciclado este verdadeiro compêndio catalográfico da metodologia corruptiva nacional.

A maior dificuldade nesta empreitada pessoal não foi escrever sobre o assunto (posto que há abundante material publicado diariamente pela imprensa em volume suficiente para compor a enciclopédia corruptiva mundial ou quiçá uma nova biblioteca de Alexandria), o pior obstáculo foi definir o nome mais adequado a tão inusitado livro.

Pensei em “Novíssimo Manual da Corrupção Nacional”. Se o Cegalla publica a sua “Novíssima Gramática” desde a década de 30, por que o meu manual não seria mais novíssimo ainda? Porém, pensando melhor (tenho permissão para pensar no meu trabalho), percebi que os mais incautos poderiam imaginar que o novíssimo se refere à corrupção, e se tem um adjetivo que não tem relação nenhuma com corrupção é justamente “novo”. Pelo menos aqui no Brasil, a corrupção precede em quase cinco séculos a gramática do Cegalla.

Depois pensei em Grande Manual da Corrupção Brasileira. Não foi por modéstia que descartei o “grande”. Foi para evitar pleonasmo. Afinal, o que seria maior neste mundo do que um manual da corrupção brasileira? Só mesmo o seu próprio objeto de estudo. Descartei então o óbvio.

Por fim, veio o “Manual da Moderna Corrupção Brasileira”. Ficou bem. Afinal é muito mais moderno você tramar desfalques pelos sofisticados blackberries antigrampos, do que ser apanhado em conversas telefônicas trepado com o fio na mão no poste da esquina. Para reforçar o nome, é realmente uma das funções deste manual apresentar os métodos de fraudamento eletrônico para o corrupto moderno que precisa desviar verbas licitatórias pelo laptop ou até fraudar um painel eletrônico de senado.

À guisa do esclarecimento

Antes que perguntem. Por que me autodenomino pensador amador? Primeiro: porque no Brasil não dá para viver pensando. O pensamento é o único artigo raro neste país que tem o seu preço em declínio. Aqui, os pensadores profissionais estão sendo obrigados a comer as próprias elucubrações para não morrerem de fome.

Além disso, estou impedido de exercer profissionalmente a função de pensador uma vez que já sou oficialmente registrado como jornalista, uma função (como milhares de outras no país) incompatível com o exercício intelectual, especialmente quando você trabalha para um grande grupo comunicacional que pensa por você. Esse não é o meu caso, por isso consigo dar umas pensadinhas rápidas enquanto trabalho. Meu codinome tem o prefixo ‘PP’: permissão para pensar. Como no caso de 007, a credencial dá certo status no início, mas expõe você a riscos em trabalhos muito mais perigosos.

Bem, foi durante essas pensadinhas que acabei descobrindo que o mundo não é tão redondo quanto tentam nos vender, que nem todos os peitos são obras da natureza, que as cores dos cabelos femininos não nascem na cabeça de ninguém, que discurso e prática não freqüentam o mesmo ambiente (o primeiro é próprio de palanque a segunda, de gabinete), que a amnésia é doença crônica transmitida pela faixa presidencial brasileira, que a maior extravagância que um milionário pode adquirir no Brasil é um senador e que não é normal que os delinqüentes pobres sigam para a cadeia enquanto os ricos tomam o rumo de Brasília. É para estes últimos que dedico este livro de valor inestimável aos que querem evoluir na arte de roubar, renunciar e voltar na próxima eleição (não necessariamente nessa ordem).

Não perca a continuação nas próximas edições do Diário da Tribo.

Um comentário:

Jan disse...

“O pensamento parece uma coisa à toa
mas como é que a gente voa quando começa a pensar...”

Felizmente podemos contar com sua PP!!! Assim, quem sabe, também nós, outros mortais, consigamos essas escapadinhas.... de pensamento, claro!
Estou ansiosa para acompanhar todas as lições. Espero que esse manual não demore muito para ficar pronto, primeiramente porque não está nos meus planos candidatar-me à Brasília para aprender tudo isso nos gabinetes. Como segunda razão, mas não menos importante, sou (somos?) a(s?) coordenadora(s?) da sua campanha rumo ao fardão da ABL!!
Beijos de todas nós, Janete e pseudônimas associadas