Era um país muito estranho. A democracia era tão grande que o povo elegia os seus próprios tiranos. Estes se revezavam no poder enquanto aquele só assistia tudo de longe entre uma eleição e outra. Os de cima fingiam defender o povo. Os da baixada faziam de conta não enxergar. Os do poder só governavam para manter o poder e a água quente de suas hidromassagens. Os do porão punham água suja em latões e na cabeça levavam. O Inconformismo continuava em seu hibernal sono profundo.
Os poderosos roubaram ambulâncias, construíram palácios, criaram impostos, desviaram dinheiro, tiraram vidas, mantiveram privilégios. O povo doente foi a pé aos hospitais falidos, construiu barracos, tapou buracos, juntou as sobras e na cabeça levou. O Inconformismo deu uma roncadinha e virou para o outro lado.
Os poderosos criaram uma guerra dentro do país. O povo ficou na linha de fogo. Chacinas viraram rotina. Granadas e balas cruzaram as cidades. O Inconformismo quase acordou com os tiros, esboçou um bocejo, mas voltou a ressonar.
Quando tudo estava dado por perdido e a Esperança já estava na sala de embarque do aeroporto, algo surpreendente aconteceu. Uma criança branca da classe média foi morta. Não pela guerra das ruas, mas por uma muito particular e mal resolvida. Dessa vez, num só movimento, o Inconformismo saltou da cama e correu para a rua.
Muitos que nunca haviam gritado na frente dos palácios em defesa da própria dignidade, tiraram o pijama, saíram de suas casas e foram à porta da delegacia só para gritar “assassinos” a dois desconhecidos condenados pelo senso comum.
Furibunda, a Sensatez, que nunca havia conseguido acordar o marido, olhou pela janela e berrou:
- Que raio você está fazendo aí fora?
Com a cara mais lavada do mundo, ele respondeu:
- Te troquei por outra!
A Sensatez morreu na hora enquanto o Inconformismo e a Incoerência se enlaçaram num beijo apaixonado.
Os poderosos roubaram ambulâncias, construíram palácios, criaram impostos, desviaram dinheiro, tiraram vidas, mantiveram privilégios. O povo doente foi a pé aos hospitais falidos, construiu barracos, tapou buracos, juntou as sobras e na cabeça levou. O Inconformismo deu uma roncadinha e virou para o outro lado.
Os poderosos criaram uma guerra dentro do país. O povo ficou na linha de fogo. Chacinas viraram rotina. Granadas e balas cruzaram as cidades. O Inconformismo quase acordou com os tiros, esboçou um bocejo, mas voltou a ressonar.
Quando tudo estava dado por perdido e a Esperança já estava na sala de embarque do aeroporto, algo surpreendente aconteceu. Uma criança branca da classe média foi morta. Não pela guerra das ruas, mas por uma muito particular e mal resolvida. Dessa vez, num só movimento, o Inconformismo saltou da cama e correu para a rua.
Muitos que nunca haviam gritado na frente dos palácios em defesa da própria dignidade, tiraram o pijama, saíram de suas casas e foram à porta da delegacia só para gritar “assassinos” a dois desconhecidos condenados pelo senso comum.
Furibunda, a Sensatez, que nunca havia conseguido acordar o marido, olhou pela janela e berrou:
- Que raio você está fazendo aí fora?
Com a cara mais lavada do mundo, ele respondeu:
- Te troquei por outra!
A Sensatez morreu na hora enquanto o Inconformismo e a Incoerência se enlaçaram num beijo apaixonado.
4 comentários:
E o BOM SENSO há muito havia viajado,tendo abandonado de vez a carreira de jornalista.
JB
Oi Fábio,
Adorei!
Genial!
bjos
Carla
Adorei seu texto! Um verdadeiro tapa na cara... gostei das metáforas que vc utilizou! Aliás, não gostei só desse texto, gostei do seu blog todo, parabéns. Estou colocando o link dele lá no Chiquita, e vê se aparece mais vezes por lá!
Até mais!
Oi Fabio,
nem aqui tão longe consegui ficar alheia ao caso por você mencionado. Fiquei chocada em notar como as pessoas reagiram quase que insanamente diante um quadro que chega a ser banal nos cantos miseraveis. So posso concluir que a classe média, na verdade, não tem medo dos horrores que podem acontecer com ela. Do que ela tem medo é dos horrorees que ela pode fazer consigo mesma.
um abraço,
Gra
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