26 fevereiro 2009

Elucubrações anhaianas

Elucubrações anhaianas
Fábio Reynol

Caro leitor, cada um elucubra onde mais lhe apetece. Uns preferem refletir sob o chuveiro morno para que os miolos se amaciem, outros gostam de fazer suas viagens intelectuais em carrinhos de supermercado donde tiram verdadeiros compêndios sobre o comportamento humanoconsumista, José Anhaia elegeu o áurico e sagrado espaço de seu vaso sanitário para deitar fora as mais preciosas reflexões sobre o universo que aí está. Ironia pura o fato de na mesma hora e local serem deitadas fora outras criações de suas entranhas bem menos preciosas, para não dizer o contrário, bem abjetas. Bom, detenhamo-nos às primeiras e deixemos as segundas para um ensaio de outro cronista descompromissado com os pudores de uma crônica familiar como esta.


A escolha do privilegiado ambiente sanitário para os exercícios do intelecto já lhe trouxe consequências das mais curiosas. A mais interessante é que quanto mais tempo ele passa no trono, mais profundas são suas conclusões e mais sofisticada se torna a sua linha de raciocínio. Uma diarréia, por exemplo, pode ser a catalizadora de um ensaio sobre a taciturnidade inerente às aves de rapina comedoras de matéria putrefata ou sobre a etmologia do vocábulo “estrovenga”, ou ainda sobre a incompreensibilidade do termo “graças a Deus” aplicado às situações favoráveis, mas jamais empregado aos reveses da vida.

Outra curiosidade é notá-lo aquietado, sem perguntas a colocar, nem ensaios a apresentar. Nesses momentos, raros é verdade, o diagnótico é certo: “o senhor está com o intestino preso, não é, seo José?” O fato é que a sua atividade intestinal está intimamente ligada de alguma forma à sua atividade mental. O que me faz acreditar que um purgante ou uma infecção intestinal o faria rescrever a teoria da relatividade, e lhe renderia com certeza um Nobel.

Só não se atreva a interrompê-lo durante seu processo criativo, o último que fez isso teve um fim trágico. Conta o próprio sábio que um dia estava ele a soltar pensamentos a esmo pelo vaso sanitário quando uma criatura resolveu atrapalhá-lo: “Era um mosquito da dengue", lembra o sapiente. "O safado deu um voo rasante no meu nariz. Quando retornou da volta de reconhecimento, dei-lhe um safanão na orelha direita que ela deve ter ficado zunindo. Atordoado, ele entrou em meidei e já foi procurando um rio Hudson para fazer um pouso de emergência. Desceu de barriga sobre uma poça no chão e começou a taxiar. Antes que ele pudesse iniciar os reparos, esmaguei sua fuselagem com um pisão”, conta orgulhoso J. Anhaia o seu grande feito de guerra.

Descartes dizia que pensava e por isso existia, Anhaia o reescreve com o seu “cago, logo penso”! É o fundador do racionalismo diarréico ou anhaiano.

4 comentários:

Anônimo disse...

Os escatológicos pensamentos da dita figura podem muito bem ser acompanhados pelas atitudes de nossos governantes federais, estaduais e municipais. Legislativos e judiciários.

Você disse que uma diarréia valeria um prêmio Nobel? Pois então façamos campanha por uma candidatura qualquer do personagem com um suprimento infinito de Manitol, Ducolax e feijoadas...

Um abraço, W + B

Anônimo disse...

Nada como uma diarréia cerebral bem sucedida!

Anônimo disse...

Sei de onde ele tiru este papo de Manitol, dulcorax e etc...mas não vou contar.
Bom, eu escreveria um livro debaixo do chuveiro. É lá que as idéias me pegam, que lembro de coisas. Pena que dentro do box não tem papel e caneta... {D.}

Fabiano Barreto disse...

Como diria o filósofo, filólogo e estrela-do-youtube Carro Velho: "Eita palavrório mediovaigil, de tão retombante"!

Muito bacana!!!