17 fevereiro 2009

Gastronomia em tempos de crise

Gastronomia em tempos de crise
Fábio Reynol

Não é porque o bolso apertou que devemos nos privar dos bons prazeres da mesa. Gastronômicos, fique bem claro! Não me refiro às taras de quem gosta de saborear o kamasutra em vez do kanikama sobre a mesa de jantar. Este artigo é para quem aprecia a culinária requintada, mas foi apanhado de jeito pelo estouro da bolha-hipotecária-financeira-imobiliária-interbancária mundial dos EUA-Europa e periferia limitada.

Meus caros, há mais prazeres ocultos nas prateleiras populares dos supermercados do que sonha a vossa vã gastronomia. Quem está com a corda no pescoço há de descobri-las com uma ajudinha deste gourmet pós-graduado em paçoca em Piranguinho (MG).

Primeira lição da crise: esqueça o caviar, o escargot, as geléias de pimenta e as demais melecas dos empórios de Higienópolis. A culinária pop pode ser muito mais gosmenta e saborosa do que suas similares da high society.

Um excelente substituto para o caviar é o chamado ovo de galinha, que tem esse nome devido à ave da qual se oriunda. Alimento finíssimo, o ovo galináceo deve ser manipulado com delicadeza e quebrado sobre uma frigideira pré-aquecida com óleo requentado de, no máximo, três semanas de uso. Ao abri-lo, deve-se ter o cuidado de não perfurar a gema a qual terá um papel importante mais adiante.

Ao esbranquiçar a clara, o ovo deve ser cuidadosamente retirado e o excesso de óleo, absorvido por um jornal velho. O acompanhamento ideal é arroz bege-quase-marrom ajeitado no prato sobre uma generosa quantidade de feijão. Não se preocupe se o arroz empapar, com a crise, o arroz empapado está voltando à moda. Por isso, não compre arroz de primeira ou não sobrará para o feijão.

Uma vez escorrido, destaque o ovo do jornal. Algumas notícias poderão ter grudado no verso da iguaria, por isso escolha bem a seção do jornal onde o ovo escorrerá. Prefira os cadernos de cultura e lazer, as páginas de política e de polícia costumam causar indigestão e até perda de apetite.

Coloque o ovo sobre o bolote de arroz, centralizando a gema. Com uma faca pontuda perfure a gema até a ponta encostar no fundo do prato. Com a faca e um colherão, faça movimentos circulares, ondulatórios e misturatórios de forma que ovo, arroz e feijão forme uma só massa compacta e indestrutível. Sirva em um prato fundo ou coma direto da panela.

Esse acepipe deve ser acompanhado por uma garrafa (pet) de Tubaína Tutti-frutti (acidulante BTX-zileno e corante CDIII-tuleno) safra 2009. Não aceite safras anteriores, ou a fermentação poderá ser brutal. Sirva em copos de requeijão Nadir Figueiredo previamente limpos. Se lhe restou alguma influência internacional, mande importar do Maranhão o refinado guaraná Jesus encontrado na cor rosa e no inconfundível sabor indecifrável. A requintada bebida maranhense deixa no palato um gosto nada suave de chicletes trufados.

Bem-vindo ao andar de baixo! Bon appétit!

IMPORTANTE: O Diário da Tribo não se responsabiliza por reações adversas que a perda de capital possa trazer à alimentação. Se persistirem os sintomas, um agente funerário deverá ser consultado.

5 comentários:

Jan disse...

auheaiehwehweu


Boa!


Na época da Faculdade, já passei uma semana a arroz com caldo de galinha e feijão. Não dava nem rpo tomate.

^^


É bom, a gente aprende.


Aprendi que uma variante barata pro arroz é a polenta.
No inverno então...hummm...

=P

Anônimo disse...

Fábio, além de nutritivo esse prato é uma delícia. Outra variante é o feijão com farinha e o ovo ou ainda só arroz e ovo.

Podemos também para os mais abastados que podem comprar uma lata de sardinha, fazer um espaguete com frutos do mar, ou seja o espaguete com a sardinha e o óleo na qual ela está conservada.

No quesito Tubaína, qual preferes a Itubaína ou a Turbaína. Acho que o guaraná Jesus tem gosto de "O Próprio me chama". E acho muito difícil nestes tempos bicudos que algum amigo vá ao Maranhão...

Temos também a opção dos vinhos de São Roque, principalmente os licorosos ou para arrebentar a festa uma legítima Sidra Cereser.

É, estou vendo que será muito fácil agitar nosso jantar.

Um abraço. (que ainda é de graça)
Bruce + Waldir

Anônimo disse...

Eu tiraria o feijão e ficaria só com um arroz, soltinho e fresquinho. O ovo mole não dispenso jamais. Tubaína sempre, Guaraná Jesus? Cruz credo. Vinho licoroso, longe de mim. Água pode ser. Mas um suco de uva Aurora tb cairia muito bem com este ovo mole e arroz. Mt delícia isso tudo. Mas o requinte mesmo é a preparação do refinado prato!

Anônimo disse...

Ai, que eu morro, mas é de rir!

E há quem diga que tal coisa e coisa e tal é tão fácil como fritar um ovo. A ciência que isso envolve, minha gente!
Se a conversa é sobre tempos de vacas de costela de fora, lá vai a minha: pra quem já teve que escolher entre comprar um pacote de macarrão, do mais barato- que deveria durar a semana toda-, e o leitinho para o filho não há crise, malandro. Só criatividade.
Visitar prateleiras populares pode assustar, mas ganha selo de inteligente, sabia?
E dá-lhe ovo!
Abraço e bom carnaval.

Fábio Reynol disse...

Uau! Quantos gastrocolaboradores!
E eu já devia ter desconfiado: o Brasil é o maior país do mundo em culinária alternativa, alimentos genéricos, gastronomia da fome. Se você tiver uma receita que não ultrapasse a barreira dos centavos, mande pra gente!